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Jacarta (Agência Fides) – A tensão está alta na Indonésia depois da imponente manifestação de grupos radicais islâmicos que em 4 de novembro levaram às ruas de Jacarta mais de cem mil pessoas que pediam a prisão, por blasfêmia, do governador cristão de Jacarta, Basuki Tjahaja Purnama, conhecido como “Ahok”. Nos dias seguintes, os bispos indonésios realizaram sua assembleia geral e não ignoraram o delicado momento político que a nação está vivendo. Interpelado pela Agência Fides, Dom Ignatius Suharyo, Arcebispo de Jacarta, afirma: “Todos os Bispos acompanharam as notícias sobre a manifestação dos grupos muçulmanos contra Ahok, esperando e rezando para que o protesto não fosse muito amplo e que sobretudo continuasse pacífico e não violento. Todos os Bispos o esperam, e rezam pelo bem comum da nação”.
A Igreja frisou que não pode entrar no mérito das decisões políticas ou judiciárias e não descerá diretamente na arena política, mas “tem uma posição clara que reitera a legalidade e os direitos inalienáveis dos cidadãos”. “O Estado deve ter determinadas regras para as manifestações e seus participantes devem respeitar as normas”, relevou Dom Suharyo, que quis sugerir uma metáfora esportiva. “Como num jogo de futebol, todos os jogadores estão em campo e jogam respeitando as regras. Não se pode usar as regras do vôlei, nem do boxe, no campo de futebol”, disse. “O campo de futebol é o Estado unitário da República da Indonésia, o árbitro é a polícia; as regras são a nossa Constituição ou nossas leis”, explicou o Arcebispo, reafirmando que a bússola, nesta situação, é a ‘legalidade’.
Também o pe. Benny Susetyo, hoje secretário do Conselho nacional do “Setara Intitute for Democracy and Peace”, famoso think-tank com sede em Jacarta, destaca a Fides que a manifestação “começou de forma pacífica, depois foi politicamente instrumentalizada para interesses de alguns projetos”. Inúmeros observadores admitiram que o encontro foi uma manobra política, já que teve início a campanha eleitoral para eleger, em fevereiro próximo, o novo governador de Jacarta.
Durante o trajeto de protesto, os militantes gritaram “Queremos um governador muçulmano”, "Queimem Ahok! É um infiel”, enquanto as duas maiores organizações islâmicas indonésias Nahdlatul Ulama (NU) e Muhammadiyah exortaram publicamente a evitar a manifestação. Os protestos contra o governador, acusado de blasfêmia, foram organizados depois que um trecho do seu discurso, em que citava um versículo do Corão, foi divulgado nas redes sociais pelo muçulmano Buni Yani, docente de comunicação, que em seguida admitiu ter tirado a frase de contexto, alterando completamente seu sentido. (PA-PP) (Agência Fides 11/11/2016)