Bangui (Agência Fides) - “Dois mil muçulmanos ainda estão hospedados na missão católica. Uma parte está no Seminário Menor, outra na Catedral e na minha casa episcopal”, diz à Agência Fides Dom Juan José Aguirre Muños, Bispo de Bangassou, cidade no sudeste da República Centro-africana atacada nos últimos dias por um grupo de militantes anti-Balaka (veja Fides 17/5/2017). “Estas pessoas foram ameaçadas pelos anti-Balaka que invadiram a cidade nos últimos dias, atacando o bairro muçulmano de Bangassou, matando, depredando e expulsando seus moradores, cujas casas foram incendiadas”.
“Devemos enfrentar duas emergências: a segurança e a ajuda humanitária”, diz o Bispo. “O que mais preocupa é a falta de segurança. Estamos expostos a ataques imprevistos. Domingo, 28 de maio, eu estava indo para a confinante República Democrática do Congo para uma missa com um grupo de refugiados centro-africanos que estão abrigados ali, quando perto das margens do rio Oubangui, uma mulher com cinco filhos, que queria se encontrar com o marido, foi levada por um grupo de homens e morta. Na agressão brutal perderam a vida algumas crianças de 3 anos”, relata Dom Aguirre. “Existe em Bangassou um contingente de Capacetes Azuis marroquinos da MINUSCA (Missão ONU na República Centro-africana), mas não é muito eficaz”.
Em relação ao aspecto humanitário, Dom Aguirre informa que “chegaram algumas ONGs que estão nos ajudando a administrar esta situação, complicada. Tivemos que acolher, e apenas 5 minutos, duas mil pessoas no Seminário. Foi como um tsunami humano, com muitas consequências do ponto de vista higiênico. Está sendo avaliada a criação de um campo de acolhimento equipado no qual transferir estas pessoas”.
Dom Aguirre, que negociou com os anti-Balaka, explica que o ataque “é uma reação à presença de dois grupos bem armados de Seleka (rebelião muçulmana, ndr), que no final do ano passado se confrontaram. Alguns deles atacaram a diocese, agredindo civis e cometendo graves crimes, inclusive sexuais. Diante desta violência, nasceu a rebelião anti-Balaka, que colocou no mesmo plano rebeldes muçulmanos e fiéis islâmicos da cidade. Os anti-Balaka, que eram poucos no início, hoje são milhares (talvez três mil) e embora mal armados em comparação com Seleka, são muito violentos e determinados. Os anti-Balaka, nascidos como reação à violência sofrida pelos Seleka, se transformaram em criminosos, iguais ou até piores de seus adversários”.
“Se é verdade que o confronto é entre muçulmanos e não-muçulmanos, a razão principal do atrito não é religiosa, mas política. Existem países vizinhos que alimentam os dois rivais para poder dominar melhor a República Centro-africana”, conclui Dom Aguirre. (L.M.) (Agência Fides 30/5/2017)