Kathmandu (Agência Fides) - Paz, estabilidade, liberdade, direitos humanos, laicidade do estado, mas também o compromisso no serviço social e no campo da educação. São estes os temas sobre os quais a Igreja Católica no Nepal “continuará contribuindo em seu serviço ao país”. Foi o que disse Pe. G. William Robins jesuíta japonês-canadense que transcorreu cerca de 45 anos no Sul da Ásia, primeiro com os jesuítas, em Bhutan oriental (cinco anos), e depois no Nepal, ensinando matemática e ciências numa escola de ensino médio. O jesuíta fala com a Fides sobre a situação atual da nação que em 14 de maio passado votou na primeira fase das eleições administrativas. Trata-se das primeiras eleições locais depois de 20 anos, passo fundamental na construção da democracia, dez anos depois do fim da guerra civil e dois anos depois da aprovação da Constituição, em 2015.
O voto administrativo foi dividido em duas fases por causa das desordens que ocorreram nas planícies do sul que confinam com a Índia, onde o grupo étnico de minoria madhese (que constitui mais da metade de 28,6 milhões de habitantes) se recusa a participar das eleições enquanto não for aprovada a emenda à constituição que garante uma maior representatividade e desenhe novamente os confins da província onde vive.
Segundo o percurso institucional desenhado dois anos atrás, depois da aprovação da Carta constitucional seguem as eleições locais, provinciais e nacionais. O processo democrático deveria se realizar em 2018. Os protestos dos madheses representam um obstáculo que desacelerou este percurso. O conflito entre o grupo étnico madhese e o governo atual torna a situação incerta e complicada. A comunidade madhese é influenciada pelos grupos hinduístas que promovem um estado confessional hindu.
Pe. Robins explica a Fides: “Permanecem presentes na sociedade os preconceitos ligados às castas e religiões. Um dos temas centrais hoje é o secularismo, concepção leiga do estado que alguns interpretam como laicismo, acreditando que o estado leigo seja um estado antirreligioso, portanto, se opõem a uma Constituição leiga. A religião é importante para a maior parte dos nepaleses. Mas esta objeção parte de um desentendimento da expressão ‘estado leigo’: esta significa que o estado não é confessional. Existe ainda uma minoria que promove um estado hinduísta e idealmente um reino hindu”, projeto apoiado também por movimentos hinduístas na Índia.
Nesse quadro, os cristãos encontraram dificuldades, mas puderam trabalhar “a longo prazo” fundando instituições como escolas, preciosas para o futuro da nação: “A Igreja Católica no Nepal é conhecida pelo bom serviço educacional, mas muitas vezes o nosso trabalho é visto como um serviço estrangeiro. Algumas grupos se lamentam das conversões ao cristianismo. Outras confissões cristãs nos dizem que não são corajosas o suficiente para sair e pregar”, acrescenta Pe. Robins. “Conservamos a esperança de que a Igreja continue crescendo.
Segundo as estatísticas de 2014, os católicos no Vicariato Apostólico do Nepal são cerca de 7 mil, servidos por 18 sacerdotes e 60 religiosos em 11 paroquias. (SD-PA) (Agência Fides 22/5/2017)