Kinshasa (Agência Fides) – Desde o início de outubro de 2014, a população do território de Beni (Kivu do Norte, República Democrática do Congo) é alvo de uma série de sequestros de pessoas e massacres, nos quais mais de mil pessoas perderam a vida.
O governo congolês atribui estas violências a um grupo de rebeldes ugandenses de inspiração islâmica, as Forças Democráticas Aliadas (ADF), qualificando-o como grupo terrorista jihadista. Ainda segundo o governo, as ADF estariam em contato com outros grupos jihadistas, como Al Shabaab, da Somália, e Boko Haram, da Nigéria. Esta tese seria comprovada pela presença de ugandeses, somalis, quenianos, chadianos e sudaneses nas tropas das ADF. “Mas a tese jihadista do governo não é convincente. Pode ser um simples pretexto para ganhar a simpatia da Comunidade internacional, que também é ‘vítima’ de uma certa forma de terrorismo internacional”, afirma a nota enviada à Agência Fides pela Rede Paz para o Congo. Com efeito, os massacres nunca foram reivindicados, como os cometidos por grupos jihadistas em outras partes da África, por exemplo pelo Boko Haram na Nigéria ou os Shabaab na Somália. As ADF não fazem comunicados nem são ativas nos sites jihadistas. Não seguem a lógica de recrutamento de novos fiéis para a expansão de um califado na região dos Grandes Lagos da África, mas uma lógica de apropriação de terras. Observa-se a estratégia de ocupações de algumas áreas do território de Beni em que a população local não pode acessar. Em relação aos presumíveis membros estrangeiros, é difícil imaginar que sejam "Foreign Fighters" (combatentes estrangeiros) que chegaram ao Congo para se alistar em uma jihad hipotética. São estrangeiros já presentes em terras congolesas há muitos anos, por vezes décadas, por razões políticas, econômicas ou profissionais.
“Segundo uma outra teoria, os verdadeiros responsáveis por estes crimes seriam o próprio governo e as populações de origem ruandesa, cujo objetivo seria ‘balcanizar’ a região, afirma a nota. “Este era o ponto de vista também de pe. Vincent Machozi, religioso assuncionista assassinado na noite de 20 de março de 2016 (veja Fides 22/3/2016 e 21/3/2017). Pouco antes de ser morto, no site Beni-Lubero, ele havia acusado o Presidente congolês Joseph Kabila e o Presidente ruandês Paul Kagame de serem os verdadeiros mandantes dos massacres. Segundo ele, os dois Presidentes favoreceriam um clima de terror com o fim de obrigar a população local a abandonar suas terras, ricas de madeira e minerais, para instalar nelas uma nova população, proveniente de Ruanda. Em sua última mensagem antes de ser assassinado, Padre Machozi escreveu: “as túnicas muçulmanas contribuem em criar confusão para esconder o rosto ruandês da ocupação, que está demasiado visível aos olhos de todos”. (L.M.) (Agência Fides 23/3/2017)
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