Islamabad (Agência Fides) - O Pastor cristão Zafar Bhatti, preso há dois anos sob a acusação de blasfêmia, foi assassinado ontem por um policial no cárcere de Rawalpindi. O agente matou Bhatti, que aguardava o julgamento, e feriu outro homem, Muhammad Asghar, condenado à morte sob a mesma acusação. Bhatti estava sob processo depois de um líder islâmico tê-lo acusado, em 2012, de enviar mensagens ofensivas no celular contra a mãe do profeta Maomé. De acordo com a família e seus advogados, alguém tentou enquadrá-lo, usando o seu celular. Como confirmou à Agência Fides Cecil Shane Chaudhry, diretor executivo da Comissão Nacional "Justiça e Paz" da Conferência Episcopal do Paquistão (NCJP) nas últimas semanas Bhatti recebeu na prisão ameaças de morte feitas por detentos e guardas. Bhatti teria se apresentado perante um tribunal de primeira instância em 26 de setembro. Como referido à Fides, os advogados da Ong CLAAS ("Center for legal aid assistance and settlement"), que acompanhavam o caso, estavam confiantes em sua libertação.
Chaudhry condenou o "gesto terrível" e lembra à Fides que "há muitos outros acusados na cadeia, inocentes, aguardando julgamento. Eles estão em perigo, apenas porque são vítimas de acusações de blasfêmia, muitas vezes falsas: o governo deve proteger suas vidas. Pedimos que o culpado seja levado à justiça".
De acordo com o "Centro de pesquisa e estudos sobre a segurança," think-tank com sede em Islamabad, nos últimos anos, as acusações de blasfêmia têm aumentado exponencialmente (um caso em 2001, 80 em 2011). A lei está sendo cada vez mais usada para ajuste de contas em disputas privadas que não têm nada a ver com religião. Os acusados correm muitas vezes o risco de serem linchados, enquanto advogados e juízes muitas vezes se recusam a ter alguma coisa a ver com esses casos.
Por esta razão, os períodos de detenção dos acusados frequentemente se prolongam. De acordo com dados oficiais, pelo menos, 48 pessoas acusadas de blasfêmia foram vítimas de execuções extrajudiciais. Dentre as recentes vítimas, um professor de Estudos Islâmicos em Karachi, Muhammad Shakil Auj, e o advogado muçulmano de Multan, Rashid Rehman.
O Bispo de Faisalabad, Dom Joseph Ashad, entrevistado por Fides, disse: "Abusa-se da lei da blasfêmia, as vítimas são os mais vulneráveis, cristãos e muçulmanos. Hoje é urgente uma correção para evitar abusos". Ate mesmo o conhecido líder muçulmano paquistanês Hafiz Tahir Mehmood Ashrafi, contatado por Fides, lamenta "o mau uso da lei sobre a blasfêmia" e como "os cristãos estão sendo perseguidos por causa do mau uso desta lei". "Como membro do Conselho Islâmico do Paquistão – afirma – irei propor ao governo punições mais rígidas para aqueles que falsamente acusam outra pessoa de blasfêmia". (PA) (Agência Fides 26/9/2014)