• A questão do véu
Entre os problemas da integração muçulmana na França, o mais recente é a polêmica em torno do véu que as jovens adeptas querem usar nas salas de aula. A discussão sobre o uso do véu islâmico nas escolas primárias e secundárias na França repercutiu no mundo árabe islâmico. Houve muitas manifestações de protesto nas ruas de Beirute, Amã, Damasco e outras cidades do Oriente Médio. Filas compactas de pessoas desfilaram contra a lei que proíbe o uso do véu na nação européia. Mas esta lei contribui realmente para melhorar a integração dos Imigrados árabe-muçulmanos na sociedade francesa?
Entre os países europeus, a França, e de uma certa forma, também a Bélgica e a Inglaterra, é o que registrou antes de todos uma numerosa presença de imigrantes, em particular do norte da África: argelinos, tunisianos, marroquinos, todos com uma característica comum, a fé muçulmana. E o problema do véu islâmico, que hoje está enfrentando a República Francesa, será tema de atualidade em todo o mundo ocidental nos próximos decênios, em função do contínuo afluxo e/ou aumento demográfico das populações muçulmanas. Todavia, esta lei tentou, de certa forma, disciplinar um problema quase marginal, deixando abertas muitos outros problemas relativos à integração.
A lei aprovada sobre o véu tramitará na Corte européia de justiça? Existe um precedente. Na laica Turquia, aonde o xador é proibido, uma estudante universitária, Leila Sahim, que pretendia usar o véu, venceu, em 1998, o recurso à Corte européia que acusou Ancara de atentado contra a liberdade pessoal.
• Educação escolar
O problema da educação compreende dois aspectos fundamentais: os programas escolares e a pertença à comunidade. O mito fundador da França é Carlo Martello, que venceu em Poiters impedindo que se alargasse o império muçulmano. Um outro mito fundador é Joana D’Arc. Um filho de imigrado que em casa ouve sempre falar de Islã e de conquistas islâmicas, poderá algum dia aceitar que o mito fundador do país onde vive é um inimigo do seu país de origem? Em nível educacional, o problema se torna esquizofrênico: de um lado, o jovem deve absorver o mito fundador do país onde nasceu e vive - mito que está, porém, em contradição com as tradições e a história familiar de origem. Como podem sentir-se os jovens estudantes das escolas francesas de origem magrebina quando na escola devem ouvir a história do colonialismo no norte da África ou o mito de Napoleão Bonaparte que invadiu o Egito? Tantos fatos registrados nas escolas francesas testemunham que os estudantes colocam em discussão e rejeitam o programa escolar. E o mesmo acontece quando se fala do conflito entre árabes e israelenses e da questão judaíca. Como resolver o problema? Com medidas escolares e imposições ou existe uma outra alternativa? E ainda: tantos jovens magrebinos rejeitam a autoridade do professor quando se trata de uma mulher. Não só: se uma jovem que pratica atividades esportivas na escola não aceita usar shorts ou camisetas sem mangas para jogar vôlei ou os pais a proíbem de ir a excursões escolares porque se misturaria muito com os meninos, como devem tratá-la? Ignorar, aumentando a sua marginalização escolar? É possível intervir? Sem fazer uma cruzada, vale a pena trabalhar para facilitar a integração. Outro problema: a educação sexual.
• Alimentação
Pode parecer um problema relativamente simples e facilmente resolvível. Nos refeitórios das escolas, quem não quer, não come carne de porco. Se o Estado é leigo, é porque deve respeitar a sensibilidade de uma religião. Para os muçulmanos, o animal deve ser abatido em um certo modo, chamado halala, ou seja, o animal é degolado e dessanguado. Por isso, foram feitos acordos precisos nos açougues municipais com a aprovação da Liga para a proteção dos animais. Uma lacuna cultural que deve ser enfrentada para mediar entre quem luta para impedir as experiências de medicamentos em animais e quem come somente carne halal. E tem mais. Nas Pyramides, um centro comercial de Paris, dois imigrantes muçulmanos conseguiram um francaising de um grande supermercado, onde não vendem mais carne de porco e bebidas alcoólicas. Como resolver a questão? O Estado deve impor ou os clientes daquele centro devem se adaptar?
• Poligamia
A poligamia não é admitida pela lei laica da França. Mas se um imigrado, que trabalha França com a família, casa-se pela segunda vez em seu País, a lei da unificação familiar francesa lhe permite acolher a sua segunda família. Mas os cidadãos franceses não têm o mesmo direito. Portanto, há uma distinção de base religiosa, que de fato, aceita a poligamia.
• Cemitérios e culto da morte
Segundo a tradição islâmica, o morto deve ser sepultado no mesmo dia do falecimento, antes do pôr-do-sol. Já a lei européia impõe esperar sempre 24 horas antes de se proceder à sepultura. Como concilia-los?
• Condição feminina
No Ocidente, a infibulação é proibida por lei. E é um crime previsto no Código Penal. Se uma família magrebina levar sua filha a seu País de origem para realizar a infibulação, e retornar a França, o pai pode ser perseguido pela lei? Esse é outro problema. Se uma mulher perde sangue e o ginecologista é homem, ela não se deixa visitar. O que fazer? Deixá-la morrer, para afirmar a laicidade do Estado?
• Trabalho, dias de férias
Se os trabalhadores imigrados de uma grande fábrica, que são a maioria já que os franceses não aceitam mais este tipo de trabalho, pedem pausas para a oração no horário de trabalho e locais de culto, ou pedem para trabalhar aos domingos e repousar às sextas-feiras, podem ser satisfeitos, ou não? Ainda: se uma fábrica com dificuldades financeiras é obrigada a mudar de atividade, e esta for contrária aos princípios do Islamismo (por exemplo, se passa de uma tarefa de enlatar tomates à venda de alcoólicos, ou da carne de bovinos à carne de suínos), o que ocorre? Abre-se um contencioso infinito, por que os Imigrados muçulmanos não querem tocar carne de porco? Se pedem férias durante o Ramadão, que pode cair em qualquer período do ano, como a fábrica deve agir?
• A transformação urbana das cidades
Este é um dos aspectos menos discutidos e tratados, com exceção dos especialistas de urbanismo, mas destinado a criar muitos problemas que podem desencadear, no imaginário coletivo, velhos fantasmas (batalha de Lepanto, saque de Roma). É verossímil imaginar que os muçulmanos queiram sempre mais mesquitas para seu culto. E a arquitetura de uma mesquita tem características específicas, com seus altos minaretes. Mesquitas ao lado de igrejas e catedrais? Como reagirão os franceses diante de um minarete mais alto do que a histórica catedral? Estarão prontos para acolher tais mudanças, ou os cidadãos imigrados deverão se satisfazer com as periferias - como o fazem hoje - a fim de que o aspecto urbano e histórico da cidade não se transforme?
• A disciplina do culto
Com a constituição da Consulta francesa para o culto muçulmano (Cfcm), a Republique tem, pela primeira vez, um intermediário oficial que regulamenta o culto. Também na Itália, o Ministro Pisanu está tentando criar um organismo similar.