Cidade do Vaticano (Agência Fides) – A paz é um dos valores que o nosso mundo mais necessita. Os conflitos bélicos se sucederam no último século, como nunca tinha acontecido em nenhuma outra época da história. Morte, destruição, divisão e ódio são os frutos terríveis deste flagelo. A violência gera violência e os homens se destroem uns aos outros. O homem contemporâneo busca a paz e tem necessidade dela para se reconstruir interiormente.
Os fiéis devem ser portadores de paz, porque Deus é o Deus da paz. Não poderá existir esta paz se cada um se preocupa exclusivamente dos seus próprios interesses e não trabalha para o bem comum. Na sua visita à Terra Santa, em maio deste ano, o Papa Bento XVI recordou que a paz é antes de tudo um dom divino, que deve ser buscado com todo o coração. Desta afirmação entende-se que a paz deve ser implorada, pedida, pois é um dom divino, e ao mesmo tempo deve também ser buscada, pois ela exige o esforço dos homens. Jesus chama “bem-aventurados” e autênticos filhos de Deus aqueles que trabalham para a paz.
O concílio Vaticano II, falando das outras religiões, na declaração Nostra Aetate, afirma: “A Igreja católica não rejeita o que tem de verdadeiro e santo nestas religiões. Ela considera com sincero respeito seu modo de agir e de viver, os preceitos e as doutrinas que, embora se diferenciem em muitos pontos daquilo que ela mesma crê e propõe, não raramente refletem um raio daquela verdade que ilumina todos os homens. Todavia, ela anuncia e deve anunciar o Cristo que é “a via, a verdade e a vida” (Jo 14,6), em quem os homens devem encontrar a plenitude da vida religiosa e em quem Deus reconciliou consigo mesmo todas as coisas” (NA n° 2).
No diálogo com as outras religiões, a Igreja não pretende tornar relativas as verdades definitivas da revelação divina que recebeu. Não pretende apresentar o Cristo como um caminho de salvação dentre outros. De fato, não nos foi dado sob o céu nenhum outro nome pelo qual podemos ser salvos. Mantendo esta unicidade da mediação salvífica do Cristo, a Igreja, no entanto, “exorta seus filhos, para que, com prudência e caridade, por meio do diálogo e da colaboração com os seguidores de outras religiões, dando testemunho da fé e da vida cristã, reconheçam, conservem e façam progredir os valores espirituais, morais e sócio-culturais que se encontram nelas” (NA n° 2).
Para o Papa Bento XVI, “a contribuição particular das religiões na busca da paz se fundamenta antes de tudo na busca entusiasmada e concorde de Deus” (Visita de cortesia ao presidente do Estado de Israel, 11 de maio de 2009), pois é a presença dinâmica de Deus que reúne os corações e assegura a unidade.
Voltando de sua peregrinação à Terra Santa, encontrando os jornalistas no avião, o Santo Padre afirmou: “encontrei em todos os lugares, em todos os ambientes, muçulmanos, cristãos, judeus, uma decidida disponibilidade ao diálogo interreligioso, ao encontro, à colaboração entre as religiões. É importante que todos vejam isto não apenas como uma ação – digamos – inspirada por motivos políticos, mas como fruto do próprio núcleo da fé, porque crer em um único Deus que nos criou a todos, Pai de todos nós, crer neste Deus que criou a humanidade como uma família, crer que Deus é amor e quer que o amor seja a força dominante no mundo, implica este encontro, esta necessidade do encontro, do diálogo, da colaboração como exigência da própria fé” (Vôo papal, 15 de maio de 2009).
Na ordem social, a paz implica na busca da justiça, da integridade e da segurança. Para promover estes valores existe um único caminho possível, que é vivê-los. O Papa afirmou que para construir a paz é necessário “olhar o outro nos olhos e reconhecer o ‘tu’ como meu semelhante, meu irmão, minha irmã” (Visita de cortesia ao presidente do Estado de Israel, 11 de maio de 2009). Se os fiéis vivem em paz e procuram a paz, a sociedade se transformará.
Um valor fundamental para construir a paz é o perdão. Somente quem tem a força e a humildade de perdoar pode ser arauto da paz. O rancor gera divisão interior e violência. O perdão gera a paz interior, reconstrói o homem e o torna forte, à imagem do Deus onipotente, que é misericórdia e perdão.
Na nossa oração deste mês, pedimos, portanto a Santa Maria, Mãe de todos os homens, Rainha da paz, de interceder pelos seus filhos, para que a busca sincera “de tudo aquilo que é verdadeiro, que é nobre, que é justo, que é puro, que é amável” faça com que “o Deus da paz” esteja sempre conosco (cfr. Fil 4,8-9). (Agência Fides 29/10/2009)