Cidade do Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre João Paulo II enviou sua Mensagem, em espanhol, ao Cardeal Rodolfo Quezada Toruño, Arcebispo de Cidade da Guatemala, Presidente do Segundo Congresso Missionário Americano, que se realiza de 25 a 30 de novembro em Cidade da Guatemala. Apresentamos a seguir o texto da Mensagem:
“O Segundo Congresso Missionário Americano, que se celebra em Cidade da Guatemala sobre o tema “Igreja na América, a tua vida è missão”, me oferece a oportunidade de saudar com grande afeto todos os presentes e de recordar, com viva gratidão, o caloroso acolhimento recebido, como peregrino de amor e de esperança, na minha última viagem a este continente, durante a qual tive o prazer de canonizar o Irmão Pedro de San José Betancurt.
A canonização deste extraordinário missionário foi, de certo modo, o prelúdio do atual Congresso. A sua potente intercessão e o testemunho da sua santidade poderão guiá-los nesta Assembléia, da qual a Igreja universal aguarda, com expectativa, uma abundante colheita de fé, de santidade e de generosidade missionária.
Antes de mais nada, desejo saudar o Senhor Cardeal Rodolfo Quezada Toruño, Arcebispo de Cidade da Guatemala, e os numerosos irmãos no Episcopado que se encontram neste “Cenáculo” missionário continental. Dirijo ainda a minha afetuosa saudação àqueles que colaboraram na preparação do Congresso e a cada um dos participantes: sacerdotes, religiosos, religiosas, fiéis leigos, especialmente jovens e crianças. O meu Enviado Especial, o Senhor Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, leva até vocês a minha solidariedade espiritual e o meu interesse por este importante evento.
Dirijo-me de modo particular a vocês, que receberam o chamado do Senhor para anunciá-Lo ad gentes, vocação de empenho e de santidade que os leva a servirem todos os homens e todos os povos da terra. “Que beleza, pelas montanhas, os passos de quem traz boas novas, daquele que traz a notícia da paz, que vem anunciar a felicidade, noticiar a salvação, dizendo a Sião: ‘Teu Deus começou a reinar!’” (Is 52,7).
A história da evangelização do continente americano, caros irmãos e irmãs, demonstra a íntima relação entre santidade e missão. Considerando tal obra missionária a partir de uma perspectiva histórica, é realmente agradável constatar o grande impacto do Evangelho e da vida cristã das primeiras comunidades, assim como o testemunho de numerosos missionários santos que ali nasceram.
Desde o início da evangelização e durante toda a história, o Espírito do Senhor suscitou nessas terras abençoadas magníficos frutos de santidade em homens e mulheres que, fiéis ao mandato missionário do Senhor, dedicaram a própria vida ao anúncio da mensagem cristã, também em condições e circunstâncias heróicas. Na base deste maravilhoso dinamismo missionário, esteve, sem dúvida, a santidade pessoal e também comunitária dos povos do continente. Um renovado impulso ad gentes na América e a partir da América requer também hoje missionários santos e comunidades eclesiais santas.
O chamado à missão uni-se à vocação à santidade, que è “um pressuposto fundamental e uma condição totalmente insubstituível para se realizar a missão de salvação da Igreja” (Redemptoris Missio, 90). Diante deste chamado universal, devemos tomar consciência da nossa própria responsabilidade na difusão do Evangelho. A propósito, a cooperação na missão ad gentes deve ser sinal de uma fé madura e de uma vida cristã capaz de produzir frutos, de modo que as Igrejas particulares mais necessitadas recebam apoio humano e espiritual que as ajude a caminhar com seus Pastores.
Por isso, “não basta explorar com maior perspicácia as bases teológicas e bíblicas da fé, nem renovar os métodos pastorais, nem ainda organizar e coordenar melhor as forças eclesiais: é preciso suscitar um novo « ardor de santidade » entre os missionários e em toda a comunidade cristã, especialmente entre aqueles que são os colaboradores mais íntimos dos missionários”. (ib).
Depois das minhas viagens pastorais em diversas nações – onde em algumas delas o Evangelho acaba de ser anunciado – estou convicto de que a humanidade aguarda, com expectativa sempre maior, “a plena manifestação do Filho de Deus” (Rm 8,19). De fato, tantas pessoas desejam encontrar o mistério de santidade e comunhão que é fundamental na Igreja e também manifestação “daquele amor que, brotando do coração do Pai eterno, se derrama em nós através do Espírito que Jesus nos dá (cf. Rom 5,5), para fazer de todos nós « um só coração e uma só alma » (Act 4,32). (Novo Millennio ineunte, 42)
Milhões de homens e mulheres que conhecem Cristo, ou o conhecem somente de forma superficial, vivem na esperança, às vezes inconsciente, de descobrir a verdade sobre o homem e sobre Deus, no caminho que leva à libertação do pecado e da morte. Para essa humanidade que anseia ou sente falta da beleza de Cristo, da sua luz clara e serena que resplendece sobre a terra, o anúncio da Boa Nova é uma tarefa vital e inadiável.
Este Congresso é orientado nesta direção. Respondam, portanto, com prontidão ao chamado do Senhor. Manifestem o desejo de serem testemunhas alegres e apóstolos entusiasmados do Evangelho até os extremos confins da terra, mediante o testemunho de uma vida santa!
A alegre experiência do Grande Jubileu do Ano 2000 nos indicou o caminho da santidade como fundamento sobre o qual se deve basear a programação pastoral de cada Igreja particular. Trata-se de “propor novamente a todos, com convicção, esta ‘alta dimensão’ da vida cristã ordinária (Novo Millennio ineunte, 30). Isso, caros irmãos e irmãs, exige uma paciente e adequada pedagogia pastoral – uma pedagogia da santidade – que deve se distinguir pela primazia da pessoa de Jesus Cristo, à escuta e ao anúncio da sua Palavra, à participação plena e ativa dos sacramentos, e ao cultivo da oração como encontro pessoal com o Senhor.
Toda atividade pastoral deve ter ao centro a iniciação cristã e a formação que, ajudando a amadurecer e a reforçar a fé daqueles que já se aproximaram dela ou atraindo aqueles que ainda se encontram afastados, representa a melhor garantia para que as Igrejas particulares na América desenvolvam uma obra eficaz de cooperação e animação missionária. Essa formação deve funcionar, efetivamente, “como elemento fulcral na pastoral ordinária” (RM 83).
Animado pelo Espírito Santo e pelo testemunho do crescente número de missionários Ad gentes que provêm de seus países, desejo renovar diante dessa grande Assembléia, - sinal de unidade de todos os povos do continente – aquilo que disse na Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in América, dirigindo-me às comunidades cristãs: “as Igrejas particulares da América são chamadas a estender este ímpeto evangelizador para além das fronteiras do seu Continente. Não podem reservar só para elas as riquezas imensas do seu patrimônio cristão. Devem levá-lo ao mundo inteiro e comunicá-lo a quantos ainda o ignoram. Trata-se de muitos milhões de homens e mulheres que, sem a fé, padecem da mais grave das pobrezas. Diante de tal pobreza, seria um erro deixar de promover a atividade evangelizadora fora do Continente com o pretexto de que ainda há muito para fazer na América, ou à espera de se chegar primeiro a uma situação, fundamentalmente utópica, de plena realização da Igreja na América (Ecclesia in America, 74).
É grande a responsabilidade das suas Igrejas particulares na obra de evangelização do mundo contemporâneo. Grande é o fruto que poderá nascer nesta nova primavera missionária “se todos os cristãos e, em particular, os missionários e as jovens Igrejas corresponderem generosa e santamente aos apelos e desafios do nosso tempo” (RM 92).
Amados irmãos e irmãs, é para mim motivo de profunda alegria saber que este Congresso, ao qual vocês se prepararam de modo comunitário durante o Ano Santo Missionário, vai acolher esse apelo e saberá dar respostas eficazes e concretas ao mandamento evangélico da missão, que é vida para a Igreja na América.
Como nos precedentes Congressos Missionários, peço ao Senhor que lhes permita viver uma intensa experiência de comunhão, que a Virgem de Guadalupe, Mãe evangelizadora da América, “exemplo daquele amor materno, do qual devem estar animados todos quantos, na missão apostólica, cooperam para a regeneração dos homens” (RM 92) os acompanhe com a sua ternura e os proteja com sua potente intercessão.
Encorajando todos e cada um de vocês a viverem em espírito de comunhão e de serviço na própria Igreja particular, renovo o meu convite a realizar o mandato missionário no mundo de hoje, por isso concedo de coração a Bênção apostólica.
Vaticano, 25 de outubro de 2003
João Paulo II
(S.L.) (Agência Fides 26/11/2003 – Linhas 104; Palavras 1.381)