Cidade do Vaticano (Agência Fides) - A gratuidade é uma dimensão fundamental da vida sacerdotal. Educar a esta é hoje ainda mais necessário, em uma época na qual uma posição mentirosa diante da realidade é passada como a única possível pela mentalidade corrente. Esta mentalidade é a mentalidade do consumo, o oposto da gratuidade. A realidade externa a nós, o “tu”, seja qual for, coisa ou pessoa, é sentida pela mentalidade dominante - e, portanto, imposta a nós - como algo da qual servir-nos, como algo a ser esgotado, queimado em uma utilidade imediata, ao invés de ser algo para o qual abrir-nos, acolher, escutar, para que o façamos florescer.
A posição da pessoa diante do ser é uma questão fundamental para todo homem, mas esta se revela de importância extraordinária para nós, que somos chamados a ser educadores, que somos chamados a viver a nossa vida em relação com as outras pessoas que deveríamos ajudar justamente sobre esta posição de verdade. O que diremos, o levaremos aos outros, se nós mesmos não vivemos esta gratuidade? Como se pode viver com os outros se não se consegue acolher o outro por aquilo que é, e não por aquilo que dá?
Somos criaturas feitas e criadas por Deus, o nosso ser é, por sua natureza, dependência, abertura, escuta. A educação à gratuidade tem por objetivo fazer reencontrar esta posição originária. Como concretamente? Através de um tempo próprio durante a semana, sistematicamente dedicado à relação com outros, quem quer que seja, pela única razão de que estes são. Tendo como utilidade restabelecer dentro do nosso coração, dentro da nossa mente, a percepção da Gratuidade Absoluta que faz todas as coisas, os homens e o mundo, gratuidade da qual provimos e para qual nos dirigimos e na qual todas as coisas consistem.
Este tempo, pouco ou muito, regularmente utilizado para esta educação de si, é educação a uma dimensão permanente da vida. Este tempo tende, se vivido de maneira verdadeira, a influir sobre o modo com o qual instauramos as relações com qualquer pessoa, assim como os momentos de silêncio, porque, no fundo, têm a mesma natureza: são um ato de oração. (Agência Fides 21/7/2006)