Nairóbi (Agência Fides)- “A pressa em realizar o referendum e a apresentação de um projeto constitucional controvertido, com certamente elementos positivos misturados, porém, a outros discutíveis, foram os fatores que levaram os quenianos a rejeitar o esboço da Constituição”. Esta é a opinião do Pe. Luigi Anatoloni, missionário da Consolata, que trabalha na Agência CISA de Nairóbi.
Na consulta referendária de segunda-feira, 21 de novembro (veja Fides 21 de novembro de 2005) o projeto da Constituição foi rejeitado por 57% dos eleitores, “que não tiveram o tempo e a possibilidade de avaliar com atenção a nova Constituição, que apresentava, no entanto, diversas partes que suscitaram perplexidade na opinião pública. Também a Igreja católica e outras confissões religiosas expressaram reservas quanto a alguns pontos do projeto constitucional, como aquele relativo ao aborto e sobre os tribunais confessionais”, afirma o missionário.
“Provavelmente, se a votação tivesse sido somente sobre alguns parágrafos do projeto constitucional, como o da introdução, os eleitores teriam se expressado de modo afirmativo”, continua o pe. Luigi. “A proposta da nova Constituição, de fato, tinha algumas partes que registraram um amplo consenso e que se espera possam ser retomadas no futuro. O fato que este projeto da Constituição tenha sido rejeitado não significa que o país não deseja mudar o atual texto constitucional. Pelo contrário, a demanda por mudanças permanece e necessitará encontrar o modo para satisfazê-la”.
No plano político, o voto impulsionou o Presidente Mwai Kibaki a demitir o governo. “Depois dos resultados do referendum”, disse Kibaki, “tornou-se necessário para mim, como Presidente da República, reorganizar o meu governo para torná-lo mais coeso e mais capaz de servir ao povo do Quênia. Demiti, portanto, todos os ministros e subsecretários com efeito imediato”. Num prazo de 15 dias, deverá ser apresentado um novo executivo.
“O Presidente Kibaki tem a exigência de alargar a base governamental, incluindo novas forças, e deve criar um governo que seja menos litigioso que o precedente”, afirma o pe. Luigi. O executivo que acaba de ser demitido ficou dividido justamente sobre o projeto constitucional e não se reunia desde julho.
Contra a reforma constitucional, estavam todos os grupos da oposição e diversos ministros da coalizão do governo, que consideraram que os cidadãos queriam não um Presidente, mas um governo forte, como o próprio Kibaki tinha prometido quando foi eleito três anos atrás. Os observadores acreditam que a reprovação da reforma constitucional é um sinal do crescente descontentamento dos eleitores para com um Presidente que, na campanha eleitoral, tinha prometido combater a corrupção e relançar a economia.
“Agora esperamos que não tenhamos diante de nós dois anos de campanha eleitoral, que poderia levar o país ao caos”, afirma o pe. Luigi. As eleições presidenciais e políticas se realizarão em 2007. “Se o novo governo for mais coeso que o precedente, então se poderá prosseguir até o dia das eleições. Um dado positivo da consulta referendária, no entanto, foi que o voto se realizou sem incidentes e violências, desmentindo os prognósticos mais pessimistas. Com o temor de graves distúrbios, diversas escolas foram fechadas por uma semana”. (L.M.) (Agência Fides 24/11/2005)