Roma (Agência) - É muito complexo pensar e preparar um dom a ser oferecido a uma pessoa querida, sobretudo se existem tantos débitos de reconhecimento para com ela. Há uma simpática e oportuna estória: “Era a festa de Deus e toda a criação se empenhava em dar a Deus a coisa mais bela que se poderia encontrar: os esquilos, as nozes mais crocantes; os coelhoes, os mais belos e saborosos maços de verdura, a mais fresca; os pássaros haviam ensaiado uma canção ad hoc; as flores competiam para preparar-se com luminosidade e fascinantes coroas; as montanhas e as colinas juntamente com as águas do mar e dos rios ensaiavam as suas músicas e danças; todas as criaturas pareciam ter encontrado um dom especial a Deus, exceto a criatura humana. Nada lhe parecia digno de Deus, e as coisas que poderiam ser propícias já haviam sido escolhidas pelas outras criaturas.
Probrezinha! Havia rodado todo o mundo em busca de algo para Deus, mas acabou entrando na festa de mãos vazias! Quando chegou o momento da celebração, não sabia o que fazer.
Haviam também objetos que vinham de outros planetas, pois todas as criaturas do espaço cideral tinham sido convidadas.
Mas a criatura humana não conseguia pensar em mais nada que não fosse o presente de Deus.
Chegou o momento da entrega dos presentes e o numeroso número de convidados se colocou em fila. A criatura humana permaneceu no fundo porque não havia encontrado nada.
A fila começou a andar e, após um certo tempo, quando restavam mais ou menos umas vinte, a criatura humana começou a entrar em pânico.
Chegando a sua vez, recordou-se de algo que não havia pensado antes, então, fez aquilo que ninguém havia pensado em fazer: correu na direção de Deus e, num salto, sentou-se no seu colo sussurrando algo no seu ouvido. Imediatamente o rosto de Deus se iluminou; era o rosto mais feliz que jamais se havia visto e que nunca mais se verá.
A criatura humana havia sussurrado aos ouvidos de Deus as três palavras mais bonitas que existem na face da Terra: “Eu te amo!”.
Todos temos um infinito débito para com o Papa João Paulo II e por muitos e variados motivos, fundamentalmente e radicalmente pelo seu testemunho corajoso e luminoso de Cristo e de sua Mensagem, uma nascente da qual derivam todos os outros âmbitos do seu “gastar-se” a favor da humanidade.
Evocando: a sua insistente e solícita ação em favor da vida humana; pelo reconhecimento e respeito da dignidade da pessoa e de cada pessoa e de todas as pessoas, sem discriminação geográfica, cultural, etnica ou religiosa; a sua interpelante chamada à solidariedade, propondo algumas vias para que se sane o débito público dos países pobres; o seu constante apelo pela paz entre os povos, entre as famílias, entre as pessoas particularmente consideradas, entre as religiões e as igrejas, grupos e organizações, para que se construa uma humanidade reunida numa única família de Deus; a admoestação cheia de sabedoria e de prudência, a fim de que – com coerência e constância – operem para o verdadeiro bem da comunidade humana, bem este que não pode ser buscado sem o fundamento da ordem moral e, portanto, da verdade, da justiça e da liberdade (consequentemente, do amor); a sua tenaz espera de um mundo melhor, confiando na bondade da pessoa humana feita a imagem e semelhança de Deus, chamada a realizar-se segundo a ordem do amor; e o seu colocar-se com amizade e confiança junto as novas gerações, indicando-lhes os caminhos luminosos do Evangelho que levam a fonte da vida: Cristo, único Salvador do mundo...
Nós, mulheres, temos muitas razões que justificam a nossa gratidão ao Santo Padre que, desde o início do seu Pontificado considerou seriamente a causa das mulheres, da sua dignidade e missão; procurou entender e escutar as aspirações e os ideais femininos; assumiu como característica da Igreja a ordem simbólica da maternidade que enriquece a humanidade com os valores da ternura, da solicitude e da sensibilidade, expressões concretas e feriais da ordem do amor. Dessa forma, levou toda a comunidade dos fiéis a refletir sobre a dignidade e vocação da mulher na Igreja e no mundo.
Quem poderia esquecer a Mulieris dignitatem? Quem não se recordaria da sua mensagem de paz de 01 de janeiro de 1995, A mulher educadora de paz? E ainda a carta enviada às mulheres por ocasião da IV Conferência Mundial da ONU em Pequim?
Quase que iniciando esta carta (n. 2) o Papa proclama:
“Graças a ti, mulher-mãe, que ti fizeste seio do ser humano na alegria e na dor de uma experiência única, que ti faz sorriso de Deus para o menino que vem a luz, vos faz guia dos seus primeiros passos, sustento no seu crescimento, ponto de referência no sucessivo caminho da vida.
Graças a ti, mulher-esposa, que une irrevocavelmente o teu destino àquele de um homem, em relação de recíproco dom, a serviço da comunhão e da vida.
Graças a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que leva ao núcleo familiar e também no complexo da vida social, as riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e constância.
Graças a ti, mulher-trabalhadora, comprometida em todos os ambientes da vida social, econômica, cultural, artística, política, para o indispensável contributo que concedes a elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do mistério, a edificação de estruturas econômicas e políticas ricas de humanidade.
Graças a ti, mulher-consagrada, que com o exemplo da maior das mulheres, a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abriste com docilidade e fidelidade ao amor de Deus, ajudando a Igreja e toda a humanidade a viver – diante de Deus – a partir de uma resposta “espponsal”, que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer estabelecer com a sua criatura.
Graças a ti, mulher, pelo fato em si de seres mulher! Com a percepção que é própria da sua feminilidade enriqueces a compreensão do mundo e contribuis com a plena verdade das relações humanas”.
O Santo Padre reconhece que um “muito obrigado” não basta. É preciso realizar projetos e iniciativas que favoreçam a genuína e real igualdade entre os sexos e evidenciem os valores peculiares do masculino e do feminino, sobretudo daqueles femininos, frequentemente excluídos e não raramente reprimidos com grande empobrecimento de humanidade para toda a humanidade.
Em nome da Igreja pede perdão e quer que tal arrependimento se traduza, para toda a Igreja, num compromisso de renovada fidelidade a inspiração evangélica que, justamente sobre o tema da libertação das mulheres de toda forma de prepotência e domínio, possui uma mensagem de perene atualidade, que emana da ação do próprio Cristo. Ele, superando os cânones vigentes na cultura do seu tempo teve, em relação as mulheres, uma posição de abertura, de respeito, de acolhimento e de ternura.
Dessa forma, honrava na mulher a dignidade que ela sempre teve no projeto e no amor de Deus. Olhando a Jesus, vem como que espontaneamente a pergunta: quanto da sua mensagem foi recebida e atuada?
Sim, está na hora de olhar com a coragem da memória e o franco reconhecimento das responsabilidades ao longo da história da humanidade, onde as mulheres deram um contributo não inferior àquele dos homens, e na maioria das vezes em condições difíceis (...). A partir da múltipla obra das mulheres na história, infelizmente, pouco resta de relevante com os instrumentos da historiografia científica. Por sorte, apesar do tempo ter sepultado os rastos documentários, não se pode negar os fluxos benéficos na seiva vital que liga o ser das gerações que chegaram até nós. No que diz respeito a esta grande, imensa “tradição” feminina, a humanidade tem um débito incalculável”.
Santo Padre, nós dizemos com todo o coração: “Muito Obrigado!” Uma expressão simples, na qual depositamos sentimentos, orações, propósitos...
(Agência Fides 15/10/2003)