Vanimo (Agência Fides) A Oceania não pode esquecer o afeto que o Papa João Paulo II demonstrou por ela nos seus 25 anos de Pontificado. São muitos os motivos... tentarei recordar as mais importantes.
Um deles emerge entre todos, e é o Sínodo continental da Oceania de 1998, dado em Roma por ocasião da preparação do Jubileu Extraordinário de 2000 e do Terceiro Milênio. Parecia impossível às Ilhas da Oceania serem consideradas da mesma forma que os demais continentes: nem o número de católicos, nem a sua recente história poderiam esperar por uma tal consideração. Apesar disso, graças ao grande amor de João Paulo II pelo continente menos considerado, o que ocorreu foi exatamente o contrário de qualquer tipo de desprezo. A Oceania tomou consciência da grande contribuição que pode dar a Igreja Universal, quando em São Pedro viu todos os seus Bispos reunidos entorno ao Papa, numa liturgia enriquecida por elementos culturais-litúrgicos típicos do Continente mais distante de Roma. Foi um choque para muitos e, ao mesmo tempo, uma exaltação para todos nós que nos considerávamos os últimos e menos considerados na grande família católica. E o nosso “Pai Comum” nos colocou num posto de honra ao lado das antigas Igrejas do Oriente e do Ocidente. A partir daquele momento, um novo dinamismo penetrou em toda a Oceania, um dinamismo que agora está emergindo sempre mais.
Entre os outros motivos que ressaltam o debito que a Oceania há para com o Papa João Paulo II, gostaria de recordar antes de tudo a atenção dada pelo Santo Padre ao gravíssimo problema das vocações no nosso Continente. A Oceania vive uma realidade contraditória: por um lado, encontramos a Austrália e a Nova Zelândia consideradas no geral como sendo zonas européias, com problemas típicos da Europa, entre eles, a rapidíssima diminuição das vocações; e por outro lado, encontramos países como a Papua Nova Guinéa, as Ilhas Salomônicas, a Nova Caledônia, etc, onde com a graça de Deus, existe uma grande possibilidade de vocações. O Papa sempre teve palavras encorajadoras a todos, sobretudo na Exortação Apostólica “Ecclesia in Oceania”. Para remediar a atual escassez de vocações, ele nos exortou não somente a confiança, oração e fidelidade a Igreja, mas também para que exista uma mútua colaboração, a fim de que os seminários de Papua Nova Guinéa e das outras Ilhas menores da Oceania pudessem receber a ajuda necessária para multiplicar os seminaristas de acordo com a possibilidade de vocações. Uma recomendação muito forte dirigida em particular aos senhores Bispos a fim de que se ajudem convenientemente na formação seminarística, promovendo com coragem as vocações sacerdotais em todos os níveis: diocesano, paroquial, escolástico e familiar, na certeza que o Senhor chama abundantemente, e que os jovens são ricos de recursos espirituais (Ecclesia in Oceania, n. 48). Este encorajamento feito pelo Santo Padre está produzindo muitos frutos, sobretudo em Papua Nova Guinéa e nas Ilhas Salomônicas: as vocações são abundantes, a ponto que os atuais seminários não são suficientes. É preciso aumentar o número dos seminários, sobretudo dos seminários menores a nível diocesano. Naturalmente, são muitas as dificuldades a serem superadas para se chegar a uma tal meta. Mas a urgente necessidade das vocações sacerdotais, nos obriga a ser ousados, seguindo o exemplo e o ensinamento do Papa João Paulo II.
Outro motivo de gratidão para com João Paulo II deriva do seu ministério em favor da vida. A Oceania, até pouco tempo atrás, sempre esteve à margem e com um certo atraso os problemas do mundo ocidental, sobretudo no que se refere aos problemas do aborto, da contracepção, da AIDS, da educação sexual, da prostituição, da homossexualidade, etc. Agora, não somente a Austrália e a Nova Zelândia, mas também as outras Ilhas da Oceania e, particularmente, a Papua Nova Guinéa, sofre com esses problemas, principalmente por causa da influência das grandes agências internacionais que manipulam os governos locais. Atualmente em Papua Nova Guinéa nos deparamos com orientações médicas a favor da esterilização, do uso de profiláticos como sendo o único meio a ser usado na luta contra a AIDS, de propostas de legalização da prostituição, do aborto, e já estamos prevendo que não tardarão a fazerem-se presente tantas outras propostas como aquelas que se referem a homossexualidade e aos “matrimônios” entre homossexuais, naturalmente veiculados com o nome de “direitos humanos”. Também a escola está gravemente ameaçada por tentativas de educação sexual que ao invés de defender os jovens, os provocam na linha de comportamentos gravemente lesivos a sua dignidade e a sua saúde.
Para todos nós este é um grande choque, pois não corresponde a necessidade de um país superpovoado, nem muito menos as exigências de caráter cultural: muito pelo contrário, tudo aquilo está em profundo contraste com a cultura local.
Afortunadamente, não nos encontramos desguarnecidos diante destes ataques contra a dignidade humana. Estamos protegidos pelo ensinamento do Santo Padre, que chegou a todas as Igrejas através da sua Encíclica “Evangelium Vitae”, e pelos seus repetidos ensinamentos sobre a dignidade da pessoa humana, sobre a defesa da Família e da Escola Católica, e sobre a verdadeira luta contra a AIDS, que inclui necessariamente a observância da lei de Deus. Este ensinamento representa uma barreira de proteção formidável que vem ao encontro das Conferências Episcopais, dando-lhes um reforço ao proclamar com clareza o Evangelho de Cristo, ainda que as pressões internacionais sejam fortes e pareçam invencíveis.
Por fim, gostaria de ressaltar a grande ajuda dada pelo Santo Padre a Oceania, graças as suas viagens neste nosso Continente (1984 e 1995), que nos fizeram sentir de modo claro e concreto o significado da “universalidade” e da “catolicidade” da Igreja. Refiro-me, sobretudo da Papua Nova Guinéa, que é muito representativa das Ilhas menores espalhadas na Oceania. A Igreja na Papua Nova Guinéa vive um momento muito particular, que é aquele da “localização”; ela está passando de uma Igreja rica de missionários de além-mar a uma Igreja rica de pessoas do seu próprio território. Este processo já existe em grande parte nas comunidades protestantes, mas com uma rapidez que em muitos casos deu aos próprios nativos a impressão de terem sido mais esquecidos que reconhecidos, e provocando diversas censuras às Comunidades Eclesiais da Europa ou da Austrália que lhes fundaram. As comunidades protestantes locais agora não se sentem mais ajudadas pelas suas comunidades de origem, e que por essa razão se sentem praticamente separadas daquelas. Este fato também facilitou a proliferação das seitas entre os seus membros, provocando o progressivo enfraquecimento das comunidades protestantes históricas.
Com as suas viagens para a Oceania, o Santo Padre mostrou que as Igrejas da Oceania são caríssimas a Igreja Universal, e que a igreja Universal continua e continuará a cuidar das Igrejas da Oceania, não deixando de favorecer ao máximo a atuação dos próprios nativos. O Papa nos levou a entender que os filhos da Igreja Católica estão unidos entre si por um vínculo fortíssimo, que se exprime seja a nível espiritual, seja a nível caritativo, o que é de vital importância para a Papua Nova Guiné, onde o senso de pertença representa um valor absoluto: em Papua Nova Guiné não existem órfãos, porque as crianças que perdem os pais são imediatamente adoptadas por outros membros da grande família do vilarejo. Ser abandonado é a experiência mais triste que alguém de Papua Nova Guiné possa vir a sofrer. O Santo Padre nos fez compreender, e também aos nossos irmãos protestantes, que ninguém na Igreja Católica está abandonado, pois ela é a Mãe de todos. Graças ao cuidado pastoral de Sua Santidade, o Papa João Paulo II, muitas comunidades protestantes da Oceania entendem melhor o significado da catolicidade da Igreja Católica e a olham com grande entusiasmo.
Agência Fides 15/10/2003