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Malatya (Agência Fides) - Há nove anos do assassinato dos três cristãos degolados na cidade turca do sudeste de Malatya, o Tribunal Penal da cidade condenou à prisão perpétua cinco turcos acusados de serem os autores do triplo assassinato. A sentença foi proferida nos últimos dias durante 115ª audiência de um processo que ao longo dos anos foi fortemente influenciado por lutas internas de poder no âmbito político, militar e judiciário turco.
Os cinco condenados - Emre Gunaydin, Salih Gurler, Abuzer Yildirim, Cuma Ozdemir e Hamit Ceker - foram reconhecidos culpados de assassinato premeditado. Mas o tribunal - referem os meios de comunicação turcos - determinou também que os cinco condenados não fossem imediatamente presos, e poderão continuar vivendo sob liberdade condicional até quando o julgamento não for confirmado nos graus processuais superiores. Os cinco condenados tinham sido presos no local do crime.
Em 18 de abril de 2007, três cristãos evangélicos - os turcos Necati Aydin e Ugur Yuksel e o alemão Tilmann Geske - foram amarrados e degolados na sede da editora Zirve, da qual eram colaboradores. Em torno dos assassinatos, as investigações encontraram uma ampla rede de cumplicidade e coberturas que envolvem membros dos ambientes militares e da segurança considerados contíguos às estruturas ocultas feitas depois da acusação ao conhecido processo Ergenekon, o processo chamado "Estado profundo", que desde 2008 teve como alvo os setores militares, acusados de fomentar uma trama ultranacionalista contra o governo islâmico de Erdogan.
Quem conduzia o processo Ergenekon naquela época eram também os ambientes judiciários vizinhos ao movimento Hizmet de Fetullah Gulen, pregador e cientista político turco na época ainda aliado de Erdogan, mas que em breve entrou em colisão com o homem forte da política turca, até ter de emigrar para os EUA e ser rotulado pelos círculos pró-governo turco como o autor de conspirações internacionais que visam atingir a liderança de Erdogan.
Após esta inversão das relações entre Erdogan e os "gulenistas" (culminando com a recente acusação contra Gulen de ser o instigador do golpe falido de 15 de julho de 2016), o mesmo movimento Hizmet foi marcado pelo sistema e pela imprensa pró-governo como "organização terrorista", e o processo pelo massacre de Malatya foi condicionado por convulsões e reversões de cenário e alianças dentro dos sistemas turcos, mudando bruscamente direção (veja Fides 4/6/2016). Durante as audiências, algumas testemunhas apontaram para substanciar a alegação de que o julgamento pelo massacre de cristãos tinha sido manipulado por círculos próximos a Fetullah Gulen que queriam usá-lo para condenar os adversários.
Em junho 2014, foi libertado o general Hursit Tolon, suspeito de ser o mandante dos assassinatos, e nos últimos meses daquele ano, outros três detentos apenas libertados começaram a atribuir o triplo assassinato aos membros do movimento Hizmet de Fetullah Gulen. Ao longo dos últimos dois anos, a todos os vinte presos acusados de envolvimento no assassinato triplo foi concedida a liberdade condicional, na expectativa da sentença. (GV) (Agência Fides 30/9/2016).