Roma - (Agência Fides)- Três crises castigam a região africana dos Grandes Lagos: República Democrática do Congo, Burundi e Uganda. O leste do Congo encontra-se novamente em meio ao terror e à violência, com a chegada das tropas ruandesas oficialmente enviadas para desarmar as milícias hutu, que têm base em território congolês. “É uma guerra que ninguém quer ver”, afirma à Agência Fides uma fonte local de Bukavu, em Kivu do sul. “Não se entende como um pequeno país como Ruanda possa desafiar a comunidade internacional, enviando as próprias tropas ao Congo, quando as Nações Unidas e as maiores potências mundiais o convidaram a buscar uma solução pacífica e não militar ao problema da presença das milícias hutu”, afirma a fonte da Fides. “Pergunto-me, então, quais interesses estão por trás para que Ruanda possa desafiar assim abertamente a comunidade internacional.”
Na localidade de Kanyabayonga, no Norte de Kivu, prosseguiram hoje os combates entre o exército regular e homens armados, provavelmente guerrilheiros do RCD-Goma (União Congolesa para a Democracia), grupo armado apoiado por Ruanda. Em relação aos combates de Kanyabayonga, ontem, 4 de dezembro, pela primeira vez, as autoridades congolesas falaram abertamente em realizar uma “guerra contra Ruanda”.
Em Burundi, foi adiado pela enésima vez o referendo sobre a nova Constituição, que deveria se realizar em 22 de dezembro (veja Fides 1° de outubro de 2004). De fato, ontem, foi anunciado que o referendo foi adiado para uma data a ser estabelecida, por motivos logísticos. “Além dos aspectos políticos deste adiamento, é preciso ressaltar a necessidade de analisar a divisão étnica decidida pela nova Constituição” - diz à Agência Fides uma fonte da Igreja local. A nova Constituição prevê a repartição dos parlamentares com base em critérios étnicos: aos tutsi (14% da população) serão destinados 40% das cadeiras, enquanto aos hutus (85% da população), caberão 60% dos postos. “O critério de repartição étnica pode ser aplicado por um breve período, mas deve ser superado. Infelizmente, a nova Constituição não apresenta um projeto de sociedade alternativa, no qual não haja mais etnias” - diz o sacerdote burundinês. “A divisão de etnias do país é um falso problema. É um pretexto utilizado para tomar o poder. O verdadeiro problema de Burundi é o subdesenvolvimento e a falta de um projeto claro para o futuro. Até que estes temas não sejam afrontados, o Burundi corre o risco de permanecer instável” - conclui o sacerdote.
Há 19 anos, a guerrilha do ERS (Exército de Resistência do Senhor) domina o Norte de Uganda. Hoje, expira a trégua proclamada pelo governo, que deveria permitir o início de negociações de paz com a guerrilha. Segundo a imprensa ugandense, o governo decidiu prolongar a trégua e ampliar a área do cessar-fogo. (L.M.) (Agência Fides 15/12/2004)