Uagadugu (Agência Fides) – “Burquina-Fasso precisa de justiça, reconciliação e paz. Os protagonistas das atuais tensões sociais (partidos políticos da maioria e da oposição), movimentos, associações e a sociedade civil), devem evitar a violência e qualquer ação que possa agravar as tensões, atentar contra a dignidade da pessoa humana e do bem comum, e conduzir nosso país ao caos”. É o que escrevem os Bispos de Burquina-Fasso no documento redigido depois da Assembleia plenária ordinária da Conferência Episcopal, realizada em Uagadugu de 11 a 14 de junho. O encontro examinou a difícil situação que o país está vivendo, marcado por tensões sociais e agitações, agravadas pelo projeto de instituir um Senado, no âmbito das reformas institucionais e políticas.
No documento final, publicado nestes dias e enviado à Agência Fides, os Bispos evidenciam que as mudanças verificadas na sociedade foram consequência de vários fatores. Em primeiro lugar, no campo demográfico, a população é sempre mais jovem (46,4% tem menos de 15 anos e 59,1% menos de 20), mas está insatisfeita e sem confiança devido à ausência de modelos sociais: “A imagem que reflete daqueles que exercitam o poder é bastante negativa, ofuscada pela corrupção e pelo clientelismo”. Releva-se, por outro lado, o aumento da alfabetização (16,17% em 1985, 32% em 2012), do acesso à informação, graças também às novas tecnologias, e à maior conscientização das mulheres, cada vez mais instruídas. Em relação aos valores, o dinheiro “se tornou uma referência, e está acima da família, da nação, da república e de Deus”, principalmente para os jovens, desejosos de bens materiais e prontos a tudo para obtê-los. Assiste-se, assim, ao paradoxo segundo o qual “o aumento da prática religiosa não é acompanhado pela exigência de conformar comportamentos sociais a preceitos e mandamentos religiosos”.
O documento releva também que o governo parece estar fora da realidade e o abismo social aumenta: a pobreza de massa cresce, um único grupo domina os poderes políticos e financeiros, a corrupção galopa, os jovens estão sem esperança e cresce a violência. “Neste clima de extrema pobreza, em que as necessidades básicas (saúde, instrução, emprego, moradias e alimentação) não estão sendo suficientemente asseguradas e um número crescente de jovens tem futuro incerto, nós nos questionamos, legitimamente, se é o caso de criar um Senado”, escrevem os Bispos. Eles reiteram que “a política é o uso do poder legítimo para alcançar o bem comum da sociedade”.
“Sobre a questão, que divide a opinião burquinense, nossos Bispos reafirmam que a Igreja católica não quer ser um obstáculo para as decisões institucionais e a adoção do Senado – escrevem no documento. Este é o motivo pelo qual, depois de chamar a atenção dos membros do CCRP (Conseil Consultatif sur les Réformes Politiques) sobre a inconveniência de criar o Senado, chegando ao ponto de ser insistente, o Episcopado adequou-se ao parecer da maioria, expressando, no entanto, seu pesar pelo fato de o CCRP não ter edfinido o conteúdo, a composição, os poderes e as relações desta instituição com a Assembleia nacional, ou seja, a configuração do futuro Senado”. (SL) (Agência Fides 23/07/2013)