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Cuttak-Bhubaneswar (Agência Fides) - "A paz em Orissa pode ser construída sobre os alicerces da reconciliação e da justiça": foi o que disse numa entrevista à Agência Fides Dom John Barwa SVD, Arcebispo de Cuttack-Bhubaneswar, na véspera do "Dia da Memória", proclamado em 24 de agosto, para recordar as vítimas dos massacres anticristãos massacres de 2008. Cuttack-Bhubaneswar é a principal diocese do Estado de Orissa (nordeste da Índia), com mais de 62 mil católicos e inclui o distrito de Kandhamal, teatro em 2008 de massacres anticristãos em que grupos organizados de extremistas hinduístas causaram mais de 100 mortos e 56 mil deslocados internos. Dom Barwa, que tomou posse alguns meses atrás, está visitando o território e está repetido aos fiéis duas frases do Evangelho: "Não tenhais medo" e "Amais os vossos inimigos". Eis a entrevista concedida à Fides.
Sua Excelência, como vocês irão celebrar o Dia de 24 de agosto?
Será um aniversário vivido na oração para o futuro de paz em Orissa. Em muitas igrejas haverá celebrações e vigílias. Eu participarei de uma celebração de oração para lembrar as vítimas numa pequena comunidade católica, na intimidade com Deus e na oração. Nós cristãos, queremos viver em paz em nossa terra. Apesar do sofrimento e a tragédia de 2008, não cultivamos ódio ou vingança. Lembraremos as vítimas do passado, confiaremos a Deus o presente e o futuro de Orissa.
Como está a situação hoje no território?
Atualmente, a situação parece calma: não há violência em massa, embora existam formas sutis de opressão e discriminação contra os cristãos. Muitos fiéis vítimas dos ataques estão lentamente tentando "reconstruir suas vidas" em lugares diferentes de onde viveram no passado. Claro, ainda há tanto medo, muitos cristãos ainda estão assustados e desanimados. Como Bispo, em minhas peregrinações no território – que devagar estou conhecendo – procuro incutir confiança nas pessoas, garantindo o apoio concreto da Igreja e proclamando as palavras de Jesus: "Não tenhais medo!"
Acredita realmente possível reconstruir uma convivência pacífica?
A paz pode ser construída sobre os alicerces da reconciliação e da justiça. Hoje, posso constatar o testemunho de fé autêntica que meu povo está demonstrando: neles não há ódio ou ressentimento por aqueles que destruíram e mataram, mas a alegria que vem de Deus. Este é o amor ao inimigo, pregado no Evangelho. É isso que prego às famílias, aos fiéis desabrigados que sofrem a miséria. Assim se curam as feridas do passado e se cria espaço para a reconciliação.
Por outro lado, a justiça é importante: continuaremos a seguir – inclusive por meio de um nosso padre-advogado – os processos nos tribunais, para que seja reconhecida às vítimas uma justa indenização e para os culpados das violências sejam punidos. Orissa é um teste para avaliar a credibilidade do sistema judiciário indiano: estão em jogo os próprios alicerces do estado de direito. Queremos continuar a confiar no Estado e no sistema judiciário, mesmo que os sentimentos mais comuns hoje, em meio aos fiéis, sejam a desconfiança e o abandono.
Como julga as recentes ordens de demolição de igrejas?
Sobre a questão das ordens de demolição de igrejas (veja Fides 22/8/2011), queremos pedir à Suprema Corte que avalie as medidas emitidas para sejam garantidos os nossos direitos de culto e a liberdade de religião previstos na Constituição indiana. Se estas medidas forem inconstitucionais, serão anuladas. Creio que a controvérsia poderá ser resolvida em breve.
O que pedem ao governo de Orissa?
Ao governo de Orissa e ao governo federal pedimos proteção, o fim das discriminações contra cidadãos cristãos, a tutela do direito de viver pacificamente em nossa terra, professando e manifestando livremente a nossa fé. Em 24 de agosto, rezarão para que o Senhor ilumine e doe a sua graça também a nossos governantes. (PA) (Agência Fides 23/8/2011)
