Kinshasa (Agência Fides) – Os dois grupos de guerrilha que continuam a semear a morte e a destruição no leste da República Democrática do Congo deveriam, há muito tempo, ter deposto as armas, pelo menos em teoria. O primeiro, o Exército de Resistência do Senhor (LRA), foi formado na segunda metade dos anos 80 no norte de Uganda, e é composto principalmente por Acholi. Esse movimento foi, durante anos, ajudado pelo Sudão que, desse modo, trocava o governo sudanês pelo apoio oferecido à guerrilha do sul do Sudão. Depois dos acordos de paz de 2005, que puseram um ponto final na guerra no sul do Sudão, o LRA perdeu, pelo menos oficialmente, todo o apoio do regime de Cartum. A administração autônoma do sul do Sudão, surgida com os acordos de 2005, chegou a iniciar a mediação entre o governo ugandense e a direção do LRA. Chegou a um passo da assinatura de um entendimento definitivo, que não aconteceu no último momento. Diante da intransigência da liderança da guerrilha, os governos de Uganda, do sul do Sudão e do Congo decidiram por uma coalizão de suas forças para derrotar militarmente o movimento rebelde (ver Fides de 4/6/2008). O grupo de guerrilha, em teoria privado de qualquer apoio por parte dos governos da região, ao invés de ser derrotado, ampliou a sua área de operações (além do Congo, os guerrilheiros ugandenses fazem incursões no sul do Sudão), estabelecendo o seu quartel general na floresta de Garamba, no Congo. É ali, que entre dezembro e janeiro, aconteceu a tríplice ofensiva - congolesa, ugandense e sul sudanesa - que, no entanto, não conseguiu atingir a direção do movimento.
As Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FLDR), em teoria, também deveriam ser derrotadas há tempos, porque, oficialmente, é um grupo “pária”, rejeitado por todos. Mesmo assim, atuam desde 1994 no norte e no sul do Kivu. Nesse meio-tempo, como escreve o jornal congolês “Le Phare”, os rebeldes ruandeses “deveriam ter se enfraquecido devido ao rigor da vida errante e eliminados pela população congolesa. Mas, curiosamente, resistiram, e se tornaram fortes num território estrangeiro, como se estivessem na sua casa em território ruandês”. “De quem ou de onde obtiveram os meios necessários para se reorganizar e retomar a ofensiva, não contra Ruanda, o seu País, mas contra a população congolesa do leste? De onde recebem as armas e as munições que parecem não acabar nunca?” questiona o jornal, que levanta a hipótese da existência de mandantes ocultos que exploram os dois grupos para continuar a saquear ilegalmente as riquezas congolesas. Uma realidade denunciada por um recente relatório da ONU que afirma que os diversos grupos de guerrilha do leste do Congo, e as FDLR em especial, financiam-se explorando as minas de ouro e de cassiterita locais.
Mas não se trata somente de simples atividades criminosas, realizadas por algumas empresas com a cumplicidade dos grupos armados locais. As riquezas naturais do Congo são estratégicas para as maiores potências mundiais. Lembramos que o urânio usado na bomba atômica de Hiroshima provinha do então Congo Belga. O interesse das maiores potências mundiais para esta área é testemunhado pela lista dos Estados e das organizações internacionais que fazem parte da “Task Force”, encarregada de verificar os acordos de paz de Nairóbi para o Kivu Norte: França, Estados Unidos, Grã Bretanha, Canadá, Bélgica, África do Sul, ONU, União Européia, União Africana, SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), além de Ruanda e da própria RDC.
As potências ocidentais que investiram recursos consideráveis para assegurar a livre realização das eleições no País, foram depois sobressaltadas pelos acordos comerciais assinados pelo Congo com a China. O Diretor do Fundo Monetário Internacional, que acaba de visitar o País, deixou entender que quer condicionar os novos empréstimos a Kinshasa a uma revisão dos acordos econômicos com Pequim. (L.M.) (Agência Fides 28/5/2009)