Mogadíscio (Agência Fides)- Piora de hora em hora o balanço dos combates em Mogadíscio, capital da Somália, entre as tropas governamentais e os milicianos al-Shabab. Segundo as últimas notícias da imprensa pelo menos 48 pessoas perderam a vida nos conflitos.
As violências envolvem também os soldados da força de paz da União Africana na Somália (AMISOM). No dia 22 de fevereiro, 11 soldados burundineses de AMISOM foram mortos em um duplo atentado suicida. O atentado, que fez também 15 feridos entre os militares burundineses e 5 entre os civis somalis, foi realizado por duas pessoas que eram bem conhecidas dos soldados do contingente africano, tendo trabalhado na sua base por 9 meses. Os dois indivíduos, uma vez reconhecidos pelas sentinelas obtiveram permissão para entrar na caserna com um jipe onde esperaram a volta de um grupo de militares da Missa (era domingo). De repente, um deles se dirigiu ao seu jipe ativando um explosivo escondido no automóvel, enquanto o cúmplice se fazia explodir na cafeteria da base. Logo depois os milicianos al-Shabab atacavam a caserna com tiros de morteiro.
Os atentados suicidas são muito mais graves pelo fato de que o FBI norte-americano descobriu que um somali que se fez explodir num atentado em outubro passado no norte da Somália, foi recrutado e treinado nos Estados Unidos, em Minnesota, para onde havia emigrado anos antes.
Os conflitos destes dias representam também a reviravolta de um processo de separação entre as chamadas Cortes islâmicas e a sua milícia armada, os al-Shabab. Quando as Cortes assumiram o poder em 2006, de fato haviam cooptado alguns grupos armados que estavam unidos sob o nome comum de al-Shabab, para garantir a ordem e lutar contra o governo de transição (um organismo, reconhecido pela comunidade internacional, mas com bem pouca incidência na Somália). Quando este último, no início de 2007, tomou o poder em Mogadíscio graças à intervenção das tropas etíopes, as Cortes continuaram a guerra com a ajuda dos Al-Shabab. A guerra obrigou a Etiópia a retirar as próprias tropas e o governo de transição a buscar um acordo com as Cortes islâmicas.
No dia 31 de janeiro de 2009 Sceikh Sharif Sceikh Ahmed, pertencente à ala “moderada das Cortes Islâmicas, foi eleito Presidente da Somália, para tentar recompor o fragmentado quadro político somali, a ala extremista das Cortes, e com ela os al-Shabab, se opôs. Ahmed é apoiado pela comunidade internacional e pelo ocidente, que depois da desastrosa experiência da ação militar etíope (apoiada pelos Estados Unidos), decidiu buscar um compromisso com a ala dita “moderada” das Cortes.
Os Al-Shabab são apoiados por elementos extremistas estrangeiros (o número 2 da Al Qaeda lançou mensagens de apoio a seu favor), mas no jogo complexo da Somália há também as grandes e pequenas potências que apóiam esta ou aquela facção conforme os seus interesses. Sem esquecer a dimensão criminosa de toda guerra moderna: do tráfico de armas e drogas, aos rejeitos tóxicos, roubo das ajudas alimentares pela população local necessitada à pirataria que no nordeste da Somália tem as suas bases. (L.M.) (Agência Fides 25/2/2009)