Cidade do Vaticano (Agência Fides) – O ato de fé “Jesus confio em Ti”, que permeia toda a espiritualidade da Divina Misericórdia e o culto a Jesus misericordioso difundido por S. Faustina Kowalska, deverá cada vez mais animar a nossa vida cristã. De fato, uma vida é cristã unicamente se, na sua base e ao longo de todo o seu percurso, se faz presente e se amplia a fé no Senhor Jesus. A confiança no Senhor Ressuscitado sintetiza perfeitamente a resposta do homem à Revelação de Deus, que se realizou plenamente em Cristo Jesus.
A propósito de “Jesus confio em Ti”, a exemplo de seu venerado Predecessor, Bento XVI disse: “com estas palavras se retoma a fé do cristão, que é fé na onipotência do Amor misericordioso de Deus” (Bento XVI, Regina Caeli no Domingo da Divina Misericórdia, 15 de abril de 2007).
Através do ato de fé em Jesus, que pode ser expresso com “Jesus confio em Ti”, aquele que crê em Cristo vê e interpreta toda a realidade que o rodeia. Nada fica de fora da fé, tudo faz voltar para ela, para que a fé em Jesus penetre todas os cantos do seu ser e das suas ações, renovando tudo que “vem de dentro”.
Esta fé em Jesus é totalizadora, porque Ele é o Verbo do Pai, o Homem-Deus que, dirigindo-se aos homens, pode dizer: “Eu sou a Via, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim!” (Jo 14, 6).
“Omnia nobis est Christus”, “Cristo é tudo para nós”! Assim Santo Ambrósio traduz perfeitamente a centralidade e a totalidade que a Pessoa de Jesus deve ocupar no coração de todo verdadeiro discípulo. Para esses, Jesus: “não só é tudo agora, como é o princípio de tudo, desde o início, também da criação”! Isso é o que nos ensina a Igreja, fiel Esposa de Cristo.
Toda a Palavra de Deus, revelada no Antigo e no Novo Testamento, encontra em Jesus de Nazaré o seu centro e a sua realização, como testemunham os Evangelhos: “Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.. Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou.” (Jo 1, 16-18). Assim, quando nos aproximamos do Novo Testamento, que ilumina o Antigo e é iluminado por ele, aproximamo-nos do Jesus real, do Jesus histórico, do Jesus da nossa fé, e não de uma “cópia” sua qualquer, mais ou menos parecida. Os Evangelistas não são os autores da história de Jesus nem, tampouco, os protagonistas, são as suas testemunhas e, como tal, tornaram-se ministros, isto é, servos da Palavra.
Esta Palavra não foi por eles alterada, mas simplesmente restituída e isso foi possível porque o Espírito Santo, o Autor das Escrituras, lhes inspirou (cfr. Conc. Vat. II, “Dei Verbum”, n. 11) e lhes fez recordar tudo, conforme Jesus havia antes anunciado (cfr. Jo 14, 26). São Lucas nos faz destacar, desde o início, as fontes históricas do seu Evangelho: “pois muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.” (Lc 1, 1-4).
A Palavra de Jesus quer iluminar a nossa vida, encher-nos de luz, guiar-nos no caminho certo; hoje, tal como ontem, como sempre, é Palavra de vida eterna, como reconhece, por inspiração divina, Simão Pedro: “Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6, 68).
Como filhos da Igreja, façamos nossa a exortação do Santo Padre, compreendendo cada vez melhor que, ter fé, significa doar-se a Jesus, sem reservas. “A palavra de Deus é como uma escada na qual podemos subir e, com Cristo, também descer na profundidade do seu amor. É uma escada para chegar à Palavra nas palavras. ‘Eu sou teu. A palavra tem um rosto, é pessoa, Cristo… No caminho da Palavra, entrando no mistério da sua encarnação, do seu estar conosco, queremos nos apropriar do seu ser, queremos nos desapropriar da nossa existência, dando-nos a Ele que se deu a nós. ‘Eu sou teu’. Oremos ao Senhor para podermos aprender com toda a nossa existência a dizer esta palavra. Assim estaremos no coração da Palavra. Assim seremos salvos” (Bento XVI, meditação na abertura dos trabalhos do Sínodo dos Bispos, 6 de outubro de 2008). (Agência Fides 8/10/2008)