Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Na Austrália, o Papa recordou que “ao promover os valores cristãos, não devemos nos esquecer de proclamar a sua fonte, dando um duplo testemunho de Jesus Cristo Senhor. É ele que confiou a missão aos apóstolos, é ele de quem os profetas falaram, e é ele que nós oferecemos ao mundo” (Encontro ecumênico do Santo Padre Bento XVI com alguns líderes de outras Igrejas e confissões cristãs, 18/7/2008).
Sabe-se que depois do Concílio, seja no âmbito missionário, seja no pastoral, reforçou-se a idéia de que o Cristo deve ser anunciado somente depois de terem sido resolvidos os problemas humanos ou, no caso dos jovens, ao final da proposta educativa. Uma tese que parece conseqüente àquela do cristianismo anônimo de Karl Rahner. É uma pena que tenha sido experimentada por são Paulo no areópago, com as conseqüências que já conhecemos. O cardeal Angelo Bagnasco afirma a esse respeito: “O anúncio do Cristo não é um complemento final, um acontecimento conclusivo de um percurso. É o fundamento. Nele está a referência educativa visível, concreta. E que o fascínio do Cristo esteja no início do percurso educativo – não como um método acadêmico, mas como experiência completa – pode ser visto por todos. É o impacto com esse fascínio que faz nascer um movimento interior, um sobressalto, uma intuição diante das exigências da vida. E isto coloca em movimento uma conversão, um caminho, porque se intui que ali tem a plenitude do homem” (Tracce, n° 7, 2008, p. 113).
Ou confiamos na força de Jesus Cristo – e do Cristo crucificado – como Paulo, depois do insucesso do areópago de Atenas, ou pensamos que a nossa sabedoria e metodologia valem mais. Então se compreende o que queria dizer o Papa na assembléia dos bispos italianos no último mês de maio, quando disse que para a Igreja, o problema educativo coincide com a transmissão da fé às jovens gerações: apenas encontrando o Cristo o homem se redescobre como homem, como já disse Vittorino, na antiguidade latina. Não existe um anúncio humano diverso de um anúncio cristão para quem consagrou a vida ao Cristo na missão e no sacerdócio. O anúncio de Jesus, verdadeiro Deus feito homem para nós homens e para a nossa salvação, contém e manifesta a concepção plena do homem.
João Paulo II o ensinou em seus 25 anos de pontificado, a começar da encíclica Redemptor hominis, onde retomava o conhecido trecho de Gaudium et spes 22: “Na realidade, somente no mistério do Verbo encanado o mistério do homem encontra a sua verdadeira luz... Cristo, que é o novo Adão, propriamente revelando o mistério do Pai e de seu amor, também revela plenamente o homem ao homem... Com a sua encarnação, de fato, o próprio Filho de Deus se uniu de certa forma a todos os homens” (n° 8).
Sacerdotes e missionários sabem que somente anunciando Jesus e não os valores da moda, mesmo aqueles da justiça e da paz, são fiéis ao seu apelo, pois do contrário seriam assistentes sociais. Somente operando para construir a Igreja como o lugar dos reconciliados, e não promovendo marchas e iniciativas para a legalidade, é que são ministros da reconciliação, não sindicalistas. Somente construindo a Igreja se contribui à humanização do mundo. O quanto esta atitude seja importante na caminhada educativa, para que os jovens não sejam induzidos a erros de perspectivas, todo bispo compreende, porque se depreende da sua própria tarefa de doutor e mestre para exortar e corrigir, para encorajar e advertir.
Transmitir a fé às jovens gerações significa, em uma palavra, retomar a traditio: aquela que no catecumenato é enfatizada nos símbolos do Credo e do Pai Nosso, e que na realidade significa transmitir Jesus Cristo como sentido da vida. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, o que valoriza qualquer pequeno fragmento do universo, sensível ou sobrenatural. Que os adultos – os presbíteros – estejam atentos a esta responsabilidade.
(Agência Fides 24/7/2008)