Khartoum (Agência Fides) – Um tour de propaganda, para demonstrar ao mundo a própria popularidade também no Darfur. É assim que os observadores internacionais interpretam a visita do presidente sudanês, Omar al-Bashir, na atormentada região do Sudão ocidental, a primeira depois que foi apresentado um pedido de captura internacional contra ele, por genocídio e crimes de guerra, por iniciativa do procurador chefe do Tribunal Penal Internacional (ver Fides 15/7/2008). A visita de dois dias do presidente prevê três etapas nos principais centros do Darfur: em El-Fasher, no norte e sede da força de paz mista ONU-União africana; em Nyala, no sul, e em El-Geneina, no oeste. Se a população local mostrar uma acolhida calorosa ao presidente, al-Bashir terá obtido êxito, mas no âmbito da propaganda.
A possível incriminação do presidente sudanês dividiu a comunidade internacional. Enquanto os países ocidentais apóiam a iniciativa do tribunal, a maior parte dos países africanos e outros, como a China, manifestaram reservas e perplexidade, evocando possíveis efeitos negativos no processo de pacificação em curso. A União africana solicitou que fosse congelado por um ano, com possibilidade de renovação, o pedido de captura contra o presidente sudanês. Também saíram em defesa do presidente os dirigentes do sul do Sudão, que em 2005 assinaram em Nairobi um acordo de paz com o governo de Khartoum, para colocar um fim a mais de 20 anos de guerra civil na região meridional do país. O presidente da região sul e vice-presidente do Sudão, Salva Kiir, em vista a Kampala, capital de Uganda, solicitou que todas as eventuais iniciativas penais contra al-Bashir sejam suspensas, para permitir ao presidente de concluir o processo de paz entre o norte e o sul do país. Segundo os acordos de Nairobi, o sul do Sudão é governado por uma administração provisória formada pelos ex-guerrilheiros do Movimento para a libertação do povo sudanês, à espera do referendo que deverá estabelecer se este território continuará fazendo parte do Sudão federal ou se ficará independente. Nos últimos meses tinham se acentuado as tensões entre o governo central e o do sul do Sudão para o controle do território de Abiye, rico em petróleo (ver Fides 9/6/2008). É evidente que os dirigentes do sul do Sudão preferem continuar tendo al-Bashir, que assinou o tratado de Nairobi, como interlocutor. Mesmo porque a eventual destituição do presidente, em conseqüência de um mandato de captura internacional, arriscaria abrir um confronto político interno no poder em Khartoum, retardando o processo de paz. E não apenas isso: em uma eventual luta pelo poder no Sudão, os “falcões” poderiam ficar tentados a relançar o confronto com os dirigentes do sul do país.
(L.M.) (Agência Fides 23/7/2008)