Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Na Solenidade da Santíssima Trindade, recém-celebrada, elevamos os nossos corações a Ele que nos criou a Sua imagem e semelhança para sermos, como afirmavam os Padres gregos da Igreja, “capazes de Deus”! Que maravilhosa criação é a pessoa humana: capaz de entrar em comunhão com o próprio Criador, de torná-la, realmente, familiar. Foi o que disse São Paulo aos cristãos de Éfeso: “não sois mais estrangeiros, nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2, 19)!
Ter Deus como parceiro na própria vida é a mais bela “aventura” que se possa imaginar, porque nunca se é desiludido pelo Senhor. Ele, de fato, chamou-nos para a mais completa participação na Sua vida divina. O que torna, às vezes, tão difícil o relacionamento com Jesus? Por que a vida parece, com freqüência, um guerrear com o mundo, com os outros, com nós mesmos …?
A resposta vem, como sempre, da Palavra de Deus. Se lermos mais atentamente a Bíblia, com os maravilhosos comentários que dela fizeram, antes de todos, os Padres da Igreja, encontraremos a solução para cada pergunta nossa.
São Tiago, a propósito das paixões que agitam o coração humano, afirma com clareza cristalina: “Prezados, de onde vêm as guerras e as disputas entre vós? Não vêm elas, talvez, de vossas paixões que combatem em vossos membros? (...) Cobiçais, e não recebeis; sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que desejais; litigais e fazeis guerra! Não obtendes, porque não pedis; Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões. (...)Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou imaginais que em vão diz a Escritura: Sois amados até o ciúme pelo Espírito que ele fez habitar em nós? Ele, porém, nos dá uma graça ainda mais abundante; por isso, diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes’. Sede submissos a Deus. Resisti ao demônio, e ele fugirá para longe de vós. Aproximai-vos de Deus e ele se aproximará de vós (...) Humilhai-vos perante o Senhor e ele vos exaltará” (Tg 4, 1 ss).
Aquilo que verdadeiramente impede a comunhão com o Senhor, isto é, a nossa verdadeira felicidade, são somente as nossas paixões. Tudo aquilo que não se ajusta ao mandamento do amor, querido por Jesus, causa ao homem desordem e, portanto, infelicidade. O sinal dessa infelicidade é o mal que sai do coração do homem, de seus lábios, mas antes ainda do seu pensamento, que recusa submeter-se a Deus, que a Ele ignora ou Lhe é indiferente, acreditando tolamente poder fazer menos d’Ele!
Jesus disse abertamente no Evangelho que “sem Ele não podemos fazer nada” (Jo 15, 5), nada de bom! Somente se nos submetermos ao Senhor poderemos dominar as paixões que nos trazem guerra todos os dias. Não são os “outros” a causa dos nossos males, mas as nossas paixões que levam os nomes de: orgulho, soberba, inveja, ciúme, ambição, prepotência… Dos Santos aprendemos esta grande lição de vida: ninguém pode tirar a paz do coração de quem aprendeu a dominar as próprias paixões. Se o outro nos fere com as suas ofensas é porque não estamos suficientemente radicados em Jesus com o amor. Se assim fôssemos, mesmo nos sentindo maltratados, teríamos a força para passar por cima das paixões e nos elevarmos em direção a Deus.
Quando os Santos se sentiam ofendidos, agradeciam ao Senhor, porque assim eram “obrigados” a exercitar a virtude da misericórdia, que os fazia se tornarem mais misericordiosos e, desse modo, mais semelhante a Deus! “Considerai perfeito júbilo, meus irmãos, quando sofreis qualquer tipo de provação, sabendo que a provação da vossa fé produz a paciência. E a paciência completa a obra dele em vós, porque sois perfeitos e íntegros, sem faltar nada” (Tg 1, 2-4).
O segredo da felicidade, isto é, da plena realização humana, é justamente este: se tornar semelhante a Deus. Não há felicidade maior do que se assemelhar a Jesus, verdadeiro Homem e verdadeiro Deus: “bem aventurados os pobres do espírito, porque deles é o reino dos céus (…) Bem aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Bem aventurados os puros de coração, porque verão Deus…” (Mt. 5, 3ss).
Bem aventurado pode se tornar aquele que renuncia às próprias paixões, por amor a Jesus, e graças a esse amor, pouco a pouco, transforma-se numa outra criatura, torna-se discípulo do Senhor. O discípulo autêntico é somente aquele que se assemelha ao seu Mestre; quanto mais a ele se assemelha e mais Lhe será semelhante! A única criatura que viveu a perfeita semelhança com o Senhor é sem dúvida a Virgem Maria. A Ela, Rainha do mês de maio, queremos confiar o caminho da nossa vida, para que se torne um “caminho de transformação” em Jesus e seja, por isso, fonte de alegria e de paz.
O Santo Padre Bento XVI, depois de ter visitado o Santuário da Nossa Senhora da Guarda, em Gênova, referindo-se à história do Santuário, disse: “A tradição conta que a Benedetto Pareto, inquieto porque não sabia como responder ao convite de construir uma igreja naquele lugar tão remoto da cidade, a Nossa Senhora, na sua primeira aparição, disse: ‘Confia em mim! Os meios não te faltarão. Com a minha ajuda tudo será fácil para ti. Mantenha firme somente a tua vontade’. ‘Confia em mim!’ Maria nos diz o mesmo atualmente” (Bento XVI, homilia de 18 de maio de 2008).
Estas palavras fortalecem também a nossa confiança, principalmente quando nos parece impossível superar as nossas paixões. Então, principalmente recitando o santo Rosário, virá a nós a força para ir adiante e realizar o maravilhoso projeto de Deus na nossa vida: tornarmos-nos semelhante a Ele! (Agência Fides 21/5/2008)