Tóquio (Agência Fides) - O Xintoísmo é a antiqüíssima religião tradicional do Japão, introduzida pelas populações pré-históricas provenientes da Ásia central e que chegou até os nossos dias depois de uma longa convivência com o Budismo. No Xintoísmo não existem doutrinas ou normas éticas codificadas. Na sua base há uma visão animista, os Kami, essências espirituais ou deuses que se manifestam através da natureza. Central é também o culto aos antepassados e (até a reforma moderna) ao Imperador, considerado de origem divina.
Atualmente, o Xintoísmo continua sendo um aspecto significativo da cultura japonesa, mas os seus praticantes estão diminuindo já que se estabelece um fenômeno de sincretismo com o cristianismo. Muitos japoneses, mesmo não aceitando o batismo, mostram-se interessados nos seus ensinamentos e se consideram cristãos. Esse fato dá à Igreja um terreno favorável para se relacionar com o Xintoísmo e em geral com a religiosidade e a cultura moderna.
“No Japão atual - explica à Agência Fides pe. Yuji Sugawara s.j., originário do Japão e docente na Pontifícia Universidade Gregoriana - ser xintoísta é acima de tudo uma herança cultural. Uma vez que não existe um 'batismo' xintoísta, não é possível afirmar quantas pessoas estejam ainda efetivamente ligadas a esta prática. Pelo mesmo motivo, os japoneses não se sentem vinculados à sua religião tradicional e demonstram um profundo interesse pelo Cristianismo. Muitos pedem até mesmo para se casar na igreja”. Por isso, o diálogo entre as duas religiões é algo mais que um confronto sobre uma série de temas e nasce das experiências concretas de vida.
“O diálogo - continua o Jesuíta - é muito mais um encontro pacífico e amigável. Acima de tudo, há um encontro espiritual, no sentido de uma vontade de oração, no respeito às diferenças. Numa realidade secularizada como o Japão, as pessoas atualmente não rezam mais. Rezar adquire, assim, um grande significado, principalmente para uma tradição religiosa como o Xintoísmo, onde a oração é mais importante do que a ética. Há também uma atividade apostólica animada pela colaboração recíproca sobre os temas caritativos e assistenciais. Enfim, não faltam estudiosos das duas religiões muito preparados. Mas acredito que o verdadeiro encontro aconteça também dia após dia com a simples convivência. Os cristãos, depois de tudo, continuam a ser uma minoria e a sua presença na sociedade é um fator importantíssimo de testemunho. Pensemos, por exemplo, na novidade que representaram para as mulheres japonesas com a sua mensagem de liberdade. No entanto, as influências foram, com freqüência, hostilizadas pelo poder político, principalmente pelos xógun”.
No século XIX, o Xintoísmo também sofreu uma forte ingerência do Estado. Para incentivar a modernização do país, de fato, foi dada cada vez mais importância ao culto do Imperador. “Com efeito - continua o prof. Sugawara - a partir do século XVII o Xogunato relegou o Imperador a um canto. No século XIX, com o fim do antigo regime, o Imperador Meyi precisava legitimar a sua nova posição de liderança. O Xintoísmo oferecia uma mitologia já desenvolvida pela divinização do Imperador. A conseqüência desta política foi um sentimento de invencibilidade do povo japonês, antes da derrota na II Guerra Mundial. Os próprios Kamikazes, os pilotos levados ao suicídio, eram as vítimas desta religião de Estado”. Atualmente, o Japão é um país democrático com estilos de vida tipicamente ocidentais. O desafio, tanto para o Xintoísmo como para o Cristianismo, é colaborar para o bem comum e despertar nos homens as questões sobre o sentido da própria vida. “Por isso também - conclui o prof. Sugawara - a Igreja está plenamente empenhada no campo missionário, com a presença ativa de muitas ordens religiosas”.
(A.M.) (Agência Fides 15/5/2008)