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Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Na série de catequeses dedicadas aos Pais da Igreja, durante a audiência geral de quarta-feira, 21 de maio, o Santo Padre Bento XVI deteve-se numa das figuras menos conhecidas: Romano o Melódio. Nascido por volta de 490 em Emesa (atualmente Homs) na Síria, foi teólogo, poeta e compositor e, de fato, “pertence à grande legião dos teólogos que transformaram a teologia em poesia”, destacou o Papa. “Depois de obter as primeiras noções de cultura grega e siríaca na sua cidade natal, transferiu-se para Berito (Beirute), aperfeiçoando-se na educação clássica e nos conhecimentos de retórica. Ordenado diácono permanente (515 ca.), foi pregador aqui por três anos. Depois mudou-se para Constantinopla no final do reinado de Anastasio I (518 ca.), e lá se estabeleceu no mosteiro na igreja de Theotókos, Mãe de Deus”. Nesse local, aconteceu o episódio chave de sua vida: apareceu-lhe em sonho a Mãe de Deus que lhe deu o dom do carisma poético, que exerceu da manhã seguinte até a sua morte, ocorrida em 555.
“Romano fica na história como um dos mais representativos autores de hinos litúrgicos” destacou o Santo Padre. Inventor de “um modo vivaz e original de catequese”, que expressava nas suas homilias, Romano pregava em um santuário na periferia de Constantinopla: “Através de suas composições podemos perceber a criatividade dessa forma de catequese, a criatividade do pensamento teológico, da estética e da hinografia sacra daquele tempo… ele subia no ambom colocado no centro da igreja e falava para a comunidade recorrendo a um cenário bastante dispendioso: utilizava representações murais ou ícones dispostos sobre o ambom e recebia também para o diálogo. As suas homilias eram métricas cantadas chamadas “kontákia”“. Chegaram até nós oitenta e nove, embora a tradição lhe atribua mil, escritas num grego simples, próximo da linguagem do povo.
Examinando alguns dos seus temas principais, o Santo Padre citou em primeiro lugar “a unidade da ação de Deus na história, a unidade entre criação e história da salvação, a unidade entre Antigo e Novo Testamento. Outro tema importante é a pneumatologia, isto é, a doutrina sobre o Espírito Santo… Outro tema central é naturalmente a cristologia. Ele não entra no problema dos conceitos difíceis da teologia, tão discutidos naquela época, e que rompeu a unidade não somente entre os teólogos mas também entre os cristãos na Igreja. Ele prega uma cristologia simples mas fundamental, a cristologia dos grandes Concílios. Mas, principalmente, está próxima da piedade popular…
Quanto à mariologia, grato à Virgem pelo dom do carisma poético, Romano a recorda no final de quase todos os hinos e a ela dedica os seus kontáki mais belos: Natividade, Anunciação, Maternidade divina, Nova Eva. Os ensinamentos morais, finalmente, se referem ao juizo final. Ele nos conduz na direção desse momento da verdade em nossa vida, do confronto com o Juiz justo e, por isso, exorta à conversão na penitência e no jejum”.
Concluindo a sua catequese, o Santo Padre destacou que “este grande poeta e compositor nos faz recordar todo o tesouro da cultura cristã, nascida a partir da fé, nascida do coração que se encontrou com Cristo, com o Filho de Deus. A partir desse contato do coração com a Verdade que é Amor nasce a cultura, nasceu toda a grande cultura cristã. E se a fé permanece viva, também essa herança cultural não morre, mas permanece viva e presente. Os ícones falam, também hoje, ao coração dos fiéis, não são coisas do passado. As catedrais não são monumentos medievais, mas casas de vida, onde nos sentimos ‘em casa’: encontramos Deus e nos encontramos uns com os outros. Nem mesmo a grande música - seja o gregoriano, Bach ou Mozart - é coisa do passado, mas vive da vitalidade da liturgia e da nossa fé. Se a fé é viva, a cultura cristã não se torna ‘passado’, mas permanece viva e presente”. (S.L.) (Agência Fides 23/5/2008)
