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Cartum (Agência Fides) - Os conflitos para o controle da zona de Abyei entre as tropas do exército sudanês e as do SPLM/A (Exército/Movimento de Libertação do Povo Sudanês) são a mais grave violação do tratado de paz assinado pelas duas partes em Nairóbi em janeiro de 2005. Os combates, iniciados na semana passada com o uso de morteiros e artilharia pesada, obrigaram a fugir 50 mil habitantes da área rica em petróleo.
Abyei é uma localidade no Sul de Khordofan, muito próxima da fronteira com o sul de Darfur. Ao longo da história sudanesa, tornou-se uma ponte entre o norte e o sul do Sudão, entre a parte árabe e islâmica e a africana, cristã e animista do País. Abyei é um dos pontos ainda não solucionados pela negociação entre o governo de Cartum e o SPLM/A que em 2005 assinaram um acordo para pôr fim à guerra de vinte anos no sul do Sudão. Com base nos entendimentos, no sul do Sudão se estabeleceu uma administração autônoma em relação a Cartum e em 2011 haverá um referendo para decidir se este território continuará a fazer parte do Sudão (gozando de uma ampla autonomia) ou se tornará independente. Não se chegou, porém, a um acordo sobre algumas áreas limítrofes, que não se sabe se devem ser incluídas no norte ou no sul do Sudão. Abyei é uma dessas áreas. Formalmente, pertence ao norte, mas a sua população inclui 280 mil pessoas das tribos do sul, que durante a guerra combateram o regime de Cartum.
A crise de governo do início de 2008, que suspendeu a participação dos representantes do SPLM no executivo de unidade nacional (crise depois normalizada), devia-se justamente à questão do respeito aos “Protocolos de Abyei”. Trata-se de um acordo assinado sob pressão norte-americana em 2004 em Naivasha (Quênia), antes do Acordo Total de Paz de 2005, para permitir a superação de um dos principais obstáculos para se chegar ao entendimento entre Cartum e o SPLM. Os Protocolos de Abyei prevêem uma administração especial para a área até 2011, um procedimento de determinação das suas fronteiras, a partilha dos lucros petrolíferos da área e um referendo em 2011, a ser realizado junto ao referendo das populações do sul, para determinar se Abyei fará parte do norte ou do sul.
Apesar de uma Comissão ter determinado, segundo os Protocolos, as fronteiras de Abyei, o governo de Cartum rejeitou as suas conclusões. A disputa é pelo controle dos recursos petrolíferos da área: em 2006, o Sudão lucrou 670 milhões de dólares com as exportações do petróleo bruto de Abyei, correspondente a13% do total das exportações de petróleo sudanesas daquele ano.
Apesar do acordo de paz, tanto o SPLA/M como o exército de Cartum continuaram a se armar. Esse fato, unido ao conflito em Darfur (oeste do Sudão), faz com que diversos observadores internacionais temam uma desestabilização do País. (L.M.) (Agência Fides 21/5/2008)
