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Cartum (Agência Fides)- “Abyei é a possibilidade de paz no Sudão.” É o que afirma um estudo elaborado por “ENOUGH Project”, um grupo de pressão norte-americano sobre as guerras na África. Intitulado “Abyei: Sudan’s Kashmir”, o relatório foi publicado no final de janeiro e registra a atenção dos observadores de questões africanas sobre um ponto crucial que poderia influir também sobre crises atuais no Chade e na região fronteiriça de Darfur.
Abyei é uma localidade no sul de Khordofan, muito próxima da fronteira com o sul de Darfur, e no decorrer da história sudanesa se tornou uma ponte entre o norte e o sul do Sudão, entre a parte árabe e islâmica e aquela africana, cristã e animista do país. Abyei é um dos pontos ainda irresolutos da negociação entre o governo de Cartum e o Southern People Liberation Moviment/Army (SPLM/A), que em 2005 assinou um acordo para pôr fim a 20 anos de guerra no sul do Sudão. Com base nos acordos, no sul do Sudão tomou posse uma administração autônoma de Cartum e, em 2011, se realizará um referendo para decidir se este território continuará a fazer parte do Sudão (gozando de um ampla autonomia) ou se vai se tornar independente. Não foi, porém, alcançado um acordo sobre algumas regiões de fronteira: não se sabe se devem ser compreendidas no norte ou no sul do Sudão. Abyei é uma dessas regiões. Formalmente pertence ao norte, mas a sua população compreende 280 mil pessoas de vilarejos do sul, que durante a guerra lutaram contra o regime de Cartum.
A recente crise de governo, que viu a suspensão da participação dos representantes do SPLM do executivo de unidade nacional (crise depois resolvida), era devido justamente à questão dos “Protocolos de Abyei”. Trata-se de um acordo assinado sob pressão norte-americana em 2004 em Naivasha (a cidade do Quênia que hoje vive confrontos étnicos, ironia da história), antes do Acordo Total de Paz de 2005, para permitir superar um dos obstáculos principais para se chegar a um acordo entre Cartum e SPLM. Os Protocolos de Abyei prevêem uma administração especial para a região até 2011, um procedimento de determinação de suas fronteiras, a compartilha dos lucros petrolíferos da região, e um referendo em 2011 a ser realizado junto ao referendo das populações do sul, para determinar se Abyei fará parte do norte ou do sul.
Apesar de uma Comissão ter determinado, segundo os Protocolos, as fronteiras de Abyei, o governo de Cartum rejeitou as suas conclusões. A disputa é pelo controle dos recursos petrolíferos da região: em 2006, o Sudão lucrou 670 milhões de dólares com as exportações do barril de Abyei, correspondente a 13% do total das exportações de petróleo sudanês daquele ano.
“Se a crise política que diz respeito a Abyei for resolvida, a esperança de paz para todo o país se tornará concreta. Mas se for mal administrada, aumentará a possibilidade que os atuais conflitos do Sudão, de Darfur no sul e no leste, eclodam nos próximos anos em uma guerra nacional com fortes implicações regionais e devastadoras conseqüências para as populações locais”, adverte o relatório.
(L.M.) (Agência Fides 14/2/2008)
