VATICANO - Josefina Bakhita, de escrava a primeira Santa sudanesa, citada como exemplo na encíclica “Spe salvi” de Bento XVI

Sexta, 30 Novembro 2007

Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Josefina Bakhita, a primeira santa do Sudão e a primeira mulher africana a receber as honras dos altares sem ser mártir, é citada como exemplo na segunda encíclica do Papa Bento XVI “Spe salvi”. “A nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a ele nos habituamos, a posse duma tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida. O exemplo de uma santa da nossa época pode, de certo modo, ajudar-nos a entender o que significa encontrar pela primeira vez e realmente este Deus. Refiro-me a Josefina Bakhita, uma africana canonizada pelo Papa João Paulo II” (n.3).
Dados biográficos
Irmã Josefina Bakhita nasceu no Sudão (África), em 1869 e morreu em Schio (Vicenza-Itália) em 1947. Flor africana, que conheceu a angústia do rapto e da escravidão, abriu-se admiravelmente à graça junto das Filhas de Santa Madalena de Canossa, na Itália. Em Schio, onde viveu por muitos anos, todos ainda a chamam«a nossa Irmã Morena».
Na escravidão
Bakhita não é o nome recebido de seus pais ao nascer. O susto provado no dia em que foi raptada, provocou-lhe alguns profundos lapsos de memória. A terrível experiência a fizera esquecer também o próprio nome. Bakhita, que significa «afortunada», é o nome que lhe foi imposto por seus raptores. Vendida e comprada várias vezes nos mercados de El Obeid e de Cartum, conheceu as humilhações, os sofrimentos físicos e morais da escravidão.
Rumo à liberdade
Na capital do Sudão, Bakhita foi, finalmente, comprada por um Cônsul italiano, o senhor Calixto Legnani. Pela primeira vez, desde o dia em que fora raptada, percebeu com agradável surpresa, que ninguém usava o chicote ao lhe dar ordens mas, ao contrário, era tratada com maneiras afáveis e cordiais. Na casa do Cônsul, Bakhita encontrou serenidade, carinho e momentos de alegria, ainda que sempre velados pela saudade de sua própria família, talvez perdida para sempre. Situações políticas obrigaram o Cônsul a partir para a Itália. Bakhita pediu-lhe que a levasse consigo e foi atendida. Com eles partiu também um amigo do Cônsul, o senhor Augusto Michieli.
Na Itália
Chegados em Gênova, o Sr. Legnani, pressionado pelos pedidos da esposa do Sr. Michieli, concordou que Bakhita fosse morar com eles. Assim ela seguiu a nova família para a residência de Zeniago (Veneza) e, quando nasceu Mimina, a filhinha do casal, Bakhita se tornou para ela babá e amiga. A compra e a administração de um grande hotel em Suakin, no Mar Vermelho, obrigaram a esposa do Sr. Michieli, dona Maria Turina, a transferir-se para lá, a fim de ajudar o marido no desempenho dos vários trabalhos. Entretanto, a conselho de seu administrador, Iluminado Checchini, a criança e Bakhita foram confiadas às Irmãs Canossianas do Instituto dos Catecúmenos de Veneza. E foi aqui que, a seu pedido, Bakhita, veio a conhecer aquele Deus que desde pequena ela «sentia no coração, sem saber quemEle era».
Filha de Deus
Depois de alguns meses de catecumenato, Bakhita recebeu os Sacramentos de Iniciação Cristã e o novo nome de Josefina. Era o dia 9 de janeiro de 1890. Naquele dia não sabia como exprimir a sua alegria. Os seus olhos grandes e expressivos brilhavam revelando uma intensa comoção. Desse dia em diante, era fácil vê-la beijar a pia batismal e dizer: «Aqui me tornei filha de Deus!». Cada novo dia a tornava sempre mais consciente de como aquele Deus, que agora conhecia e amava, a havia conduzido a Si por caminhos misteriosos, segurando-a pela mão. Quando dona Maria Turina retornou da África para buscar a filha e Bakhita, esta, com firme decisão e coragem fora do comum, manifestou a sua vontade de permanecer com as Irmãs Canossianas e servir aquele Deus que lhe havia dado tantas provas do seu amor. A jovem africana, agora maior de idade, gozava de sua liberdade de ação que a lei italiana lhe assegurava.
Filha de Madalena
Bakhita continuou no Catecumenato onde sentiu com muita clareza o chamado para se tornar religiosa e doar-se totalmente ao Senhor, no Instituto de Santa Madalena de Canossa. A 8 de dezembro de 1896, Josefina Bakhita se consagrava para sempre ao seu Deus, que ela chamava com carinho «el me Paron!». Por mais de 50 anos, esta humilde Filha da Caridade, verdadeira testemunha do amor de Deus, dedicou-se às diversas ocupações na casa de Schio.
A última prova
Na agonia reviveu os terríveis anos de sua escravidão e vária vezes suplicava à enfermeira que a assistia: «Solta-me as correntes ... pesam muito!». Foi Maria Santíssima que a livrou de todos os sofrimentos. Assuas últimas palavras foram: «Nossa Senhora! Nossa Senhora!», enquanto o seu último sorriso testemunhava o encontro com a Mãe de Jesus. Irmã Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947, na Casa de Schio, rodeada pela comunidade em pranto e em oração. Uma multidão acorreu logo à casa do Instituto para ver pela última vez a sua «Santa Irmã Morena», e pedir-lhe a sua proteção lá do céu. Muitas são as graças alcançadas por sua intercessão.
O processo ordinário para iniciar a beatificação se realizou em Vicenza entre 1955 e 1957. O processo apostólico se realizou em 1968-1969. Justamente em setembro de 1969, o corpo de Bakhita foi transladado do cemitério de Schio ao Instituto das Filhas da Caridade, no qual tinha vivido.
João Paulo II assinou o Decreto sobre as virtudes de Josefina Bakhita em 1° de dezembro de 1978 e em 6 de julho de 1991 o Decreto de beatificação. Em 17 de maio de 1992, Josefina foi proclamada Bem-aventurada e no domingo, 1o de outubro de 2000, João Paulo II a canonizou na Praça S. Pedro: é a primeira santa sudanesa. (S.L.) (Agência Fides 30/11/2007)


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