ÁSIA/SÍRIA - George Sabra, o porta-voz cristão da oposição: “Será uma nova Síria, uma Síria democrática, uma garantia para todos”

Quarta, 18 Julho 2012

Milão (Agência Fides) – “Estamos no início do fim do regime sírio. Está para ser aberta uma nova página da história nacional. A nova Síria será democrática, potencialmente laica, reconciliada e livre da opressão: “é o que diz, numa entrevista à Agência Fides, George Sabra, cristão, porta-voz do Conselho Nacional Sírio ("Syrian National Council"), organismo representativo da frente de oposição síria. O porta-voz tranquiliza as comunidades cristãs na Síria porque “seu futuro será garantido segundo os princípios de democracia, cidadania e liberdade”. A Fides o entrevistou, às vésperas de um encontro organizado hoje, 18 de julho, em Milão, pela revista dos Jesuítas "Popoli".

George Sabra, como julga a crise síria, que se agravou nestas horas?

É uma fase critica. Diria que estamos no início do fim do regime. Há combates ásperos em Damasco e o exército sírio bombardeia bairros da capital. É um regime, uma minoria que ocupa o poder que trava guerra com o seu próprio povo.

Como avalia os esforços de reconciliação, nascidos na sociedade civil síria, para recompor um tecido social desmembrado?

A reconciliação é muito importante, é o caminho para a unidade. Nós a apoiamos firmemente, hoje e no futuro próximo. Faremos de tudo para prevenir formas de violência em todas as partes do país. Queremos abrir uma nova página na história da nação e todos os componentes da sociedade poderão participar, dando sua contribuição para construir o futuro da Síria. Nas diferenças e no pluralismo, o povo sírio está unido: somos todos parte de um só povo.

Como é a situação dos cristãos na Síria, hoje?

Devo dizer que, no início, infelizmente, as Igrejas acreditaram na revolução. Depois, centenas de cristãos foram presos, como outros cidadãos, por atividades revolucionárias: eu também fui preso, no ano passado, com outras 14 pessoas cristãs de minha aldeia. Com o passar dos meses, parte dos cristãos começou a compartilhar nossos ideais da revolução, na Síria e no exterior. Queremos dizer com clareza que no futuro não haverá algum risco para eles.

Ao que parece há grupos salafitas e islâmicos entre os combatentes revolucionários: é verdade?

Por um lado, posso dizer que alguns exageram: não existem grupos aliados com a Al Qaeda. Os islâmicos existem, mas os conhecemos, fazem parte de nossa sociedade e sabemos tratar com eles. Estão no Conselho Nacional Sírio, subscreveram a “Declaração de Damasco” (na qual a frente da oposição reitera princípios de democracia e liberdade, ndr). Também a Irmandade Muçulmana anunciou, no mês passado, que aceitará membros não-muçulmanos no governo e também na presidência do país, se o povo assim o decidir. É um sinal de boa vontade deles.

Como tranquilizar as minorias? Como garantir que a nova Síria será um Estado leigo, democrático e livre?

Creio que a democracia seja o único caminho de tutela para a maioria e as minorias. é a ditadura que oprimiu todo o país, maioria e minorias. Precisamos que a Síria seja governada por verdadeiros representantes do povo sírio. Reiteramos o conceito de “cidadania”: todos os cidadãos sírios, de qualquer comunidade ou religião sejam, serão iguais e terão os mesmos direitos. Sobre a laicidade do Estado, digo que é um princípio que pessoalmente defendo com convicção, e meu partido a defende. Mas será o povo sírio a decidir o que será escrito na Constituição. Nós lutaremos, na arena política, pelo princípio da laicidade do Estado, mas a decisão será do povo e deverá ser respeitada.

Qual será o papel dos cristãos na nova Síria?

O papel e a condição dos cristãos serão os mesmos vividos no passado democrático da Síria: refiro-me a meados do século passado, quando tivemos um Primeiro-Ministro cristão e um cristão Presidente do Parlamento. A democracia dará às minorias, e assim, à comunidade cristã, a oportunidade de mostrar suas capacidades, sua especificidade, seu apego e sua contribuição ao país.

Quais são suas esperanças para a Síria?

Sofremos demais nos últimos 40 anos. Para a Síria espero ter chegado a hora de ser livre. (PA) (Agência Fides 18/7/2012)


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