ÁFRICA/EGITO - Um confronto entre os “dois Egitos” no primeiro aniversário da revolução

Sábado, 28 Janeiro 2012

Cairo (Agência Fides) – “O que acontece nestas dias na Praça Tahrir reflete a situação do País” – diz à Agência Fides pe. Luciano Verdoscia, missionário comboniano que trabalha no Cairo, onde ontem, 27 de janeiro, verificaram-se atritos entre manifestantes leigos e membros dos Irmãos Muçulmanos, durante uma manifestação pelo primeiro aniversário da revolução que levou à queda do Presidente Hosni Mubarak. “Por um lado – explica o missionário – temos uma situação em vias de estabilização, com a votação para a Câmara Baixa que afirmou os partidos confissionais (Irmãos Muçulmanos e salafitas); por outro, existe uma classe intelectual e outras forças leigas promotoras da revolução, que aproveitaram o aniversário para reiterar seus princípios; laicidade do Estado, respeito pelos direitos humanos e fim da interferência dos militares na vida política”. “Esta dicotomia é constatada também nas sondagens publicadas pelos jornais, que demonstram que 30% dos entrevistados quer que as manifestações prossigam também na próxima semana, enquanto 70% se dizem contrários” – continua pe. Luciano. “Nestes 30% que querem um Estado leigo, democracia real e direitos humanos, não há somente cristãos, mas também muitos muçulmanos que rejeitam o controle religioso da sociedade” – acrescenta o missionário. “Por outro lado, o termo ‘democracia’ já entrou no debate político e social. O problema é entender seu significado. Há quem diga que a lei islâmica, a xariá, garanta a democracia e os direitos humanos porque provém diretamente de Deus. Outros dizem que a xariá é uma revelação divina, mas que foi interpretada por diversas escolas jurídicas e que portanto, é uma elaboração humana e não pode ser sujeita a novas interpretações e elaborações” – diz pe. Luciano. “Outra exigência das manifestações destes dias é que se ponha fim ao poder do Conselho Militar. Alguns pedem que seja nomeado um Chefe Provisório do Estado, que assuma os poderes ainda em mãos dos militares, até a eleição do novo Presidente”.
”Resumindo, há um ano da revolução, a situação no Egito está ainda em mutação. Os Irmãos muçulmanos que se preparam para governar o País estão dando sinais de abertura ao exterior, inclusive para relançar a economia, mas o processo de estabilização ainda será longo” – conclui pe. Luciano. (L.M.) (Agência Fides 28/1/2012)


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