ÁSIA/PAQUISTÃO - Uma religiosa de Punjab: "Cristãos desumanizados num sistema que só protege os direitos dos poderosos"

Quinta, 7 Julho 2011

Lahore (Agência Fides) - "Nós cristãos somos realmente desumanizados, somos tratados como objetos e como uma mercadoria para vender. Vivemos num sistema onde apenas os poderosos têm direitos. Aos cristãos não é garantida a justiça nos tribunais: é uma grave lacuna no Estado de direito, e esta é uma das principais causas de sofrimento e perseguição de cristãos no Paquistão". É a denúncia feita numa entrevista à Agência Fides, de uma religiosa que vive no Punjab. A religiosa, que pediu anonimato por razões de segurança, é responsável por receber, esconder, recuperar as meninas cristãs seqüestradas, maltratadas, estupradas ou obrigada a casamentos islâmicos forçados. É a pessoa que melhor conhece o fenômeno, porque todos os dias ouve as histórias das jovens. Sobre o caso de Farah Hatim, disse à Fides: "O de Farah é uma história muito triste e, infelizmente, não é o único e raro. Registramos pelo menos 700 casos por ano e conseguimos salvar apenas algumas dezenas de garotas".
"Quando uma família cristã vem chorando até nós, informando-nos de um caso – conta a religiosa à Fides - vamos aos líderes da aldeia para obter seu apoio, fundamental para a chamada " lei da jirga"(assembléia), habitual nas aldeias. Às vezes,nos ouvem e nos ajudam, mas quando se trata de clã muçulmano poderoso, dizem que não podem fazer nada. Aí se deveria aplicar o direito penal nacional, mas o ponto é que os tribunais de primeiro gral são corruptos e totalmente manipulados por homens políticos, por líderes islâmicos, ou por grandes latifundiários. É um círculo vicioso, de modo que para as minorias cristãs não são garantidos a justiça: é uma grave lacuna no estado de direito e uma das principais causas de sofrimento e perseguição dos cristãos no Paquistão".
O sofrimento dos cristãos, explica a religiosa, se insere no quadro geral das condições das mulheres no Paquistão: "as mulheres não tem valor. Apenas 8% das mulheres recebem educação no Paquistão. As meninas são muitas vezes abortada. Existe um problema básico da cultura e da mentalidade tribal".
Além disso, "as mulheres cristãs carregam consigo o estigma de pertencer a uma minoria religiosa: são as mais fracas e mais vulneráveis, não têm voz. Os muçulmanos poderosos aproveitam. As garotas sofrem abusos, maus-tratos, estupros e permanecem em silêncio, caso contrário suas famílias sofrem violências. Existe uma discriminação de fato: os cristãos não são verdadeiros cidadãos, porque não podem ter justiça com relação a tais claras violações dos direitos individuais e da comunidade", concluiu a religiosa. (PA) (Agência Fides 7/7/2011)


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