ÁSIA/MIANMAR - Eleições previsíveis, mas com possíveis surpresas

Sábado, 6 Novembro 2010

Yangum (Agência Fides) – Eleições monitoradas e – para muitos observadores – com êxito previsível, amanhã, em Mianmar. Serão as primeiras eleições parlamentares depois de vinte anos. Em 1990, registrou-se a vitória – jamais ratificada e nunca aceita pela junta militar do país – da “Liga Nacional pela Democracia”, guiada por Aug San Suu kyy, a líder da oposição ainda hoje em prisão domiciliar.
A junta militar no poder redigiu e fez aprovar, com referendo, a nova Carta Constitucional que a defende de eventuais surpresas, como uma possível vitória de candidatos democráticos (que mesmo vencendo, não poderiam formar um governo com os atuais mecanismos).
Dentre os maiores partidos que se apresentam ao voto, está o “Partido da União, da Solidariedade e do Desenvolvimento”, com mais de 1.100 candidatos e formado pelos militares no poder. Há também o “Partido de Unidade Nacional”, do último ditador, Ne Win, com 999 candidatos. A “Liga Nacional pela Democracia” está dividida: alguns membros boicotaram o voto; outros formaram a “Força Nacional Democrática”, considerando oportuno deixar uma porta aberta a possíveis mudanças. Este partido, no entanto, sofreu muitas restrições e apresenta apenas 163 candidatos. Outras formações da oposição são o “Partido Nacional Democrático Shan” e o “Partido Democrático de Mianmar”, com 48 candidatos.
Segundo os observadores, a Comissão Eleitoral que deve controlar o êxito do voto não é independente, o que constitui um grave ‘handicap’ para a transparência. As urnas não estarão abertas em mais de 4 mil aldeias habitadas por minorias étnicas das áreas de conflito, o que excluirá milhares de cidadãos do voto.
“A população – dizem fontes da Fides – permanece bastante apática e não nutre muita confiança no pleito. Não se esperam muitas mudanças”.
Apesar de tudo, de acordo com alguns observadores como o think tank “Transnational Institute”, pode haver algumas surpresas: “O processo eleitoral é carente em nível de democracia e de inclusão das minorias étnicas, mas as eleições serão, todavia, um passo importante e produzirão uma situação cuja evolução não se pode prever” – afirma o instituto.
As minorias étnicas (cerca de 100 diferentes grupos) constituem mais de 40% da população birmanesa (segundo alguns estudiosos, esta cifra é de 60%), e são a maioria nos sete estados étnicos. Elas são penalizadas por um conflito com o governo que dura há mais de 60 anos. Nos últimos 10 anos, tal conflito provocou mais de um milhão de deslocados internos e refugiados que migraram para a Tailândia.
Um dos meios para contatar as minorias étnicas são as transmissões da Rádio Veritas que, como diz uma fonte da Fides, “continua a transmitir mensagens de paz e de reconciliação. Divulgou principalmente apelos dos Bispos birmaneses à responsabilidade, antes das eleições. Desempenha uma preciosa obra de informação e de educação das consciências dos cidadãos, mantidos às margens do processo político”.
Com vistas nas eleições, os Bispos birmaneses, católicos e protestantes, enviaram uma carta conjunta ao gen. Than Shwe, líder da junta militar (veja Fides 14/10/2010), assegurando que “todos os cristãos estão em oração pelo país”, sobretudo para que sejam garantidas “paz e justiça” à nação.
(PA) (Agência Fides 6/11/2010)


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