ÁSIA/ÍNDIA - Do veredicto de Ayodhya uma “campainha de alarme” para as minorias religiosas

Sexta, 1 Outubro 2010

Nova Délhi (Agência Fides) - "A sentença de Ayodhya, que é baseada no populismo e no compromisso político, poderá ter repercussões graves sobre as minorias religiosas na Índia. Os movimentos extremistas hinduístas que destruíram uma mesquita Babri Masjid, em 1992, cantam vitória e ao mesmo tempo, reivindicam pelo menos 3.000 locais onde surgem edifícios de Cult pertencentes a outras minorias religiosas”: foi o que disse num comentário feito à Agência Fides feita pelo católico John Dayal, ativista indiano dos direitos humanos e secretário-geral do Conselho Cristão da Índia, organismo que reúne representantes cristãos de todas as confissões, muito ativo na defesa das minorias religiosas. Dayal disse à Fides: "A sentença, com a disposição de dividir a área em disputa entre hinduístas e muçulmanos foi considerada como a única maneira para restabelecer a paz entre as duas comunidades, mas eu acho que poderia ter o efeito oposto: o Tribunal, com tal decisão deu credibilidade legal, sem provas históricas ou arqueológicas, à mitologia hinduísta do local de nascimento do deus Rama, onde sobre as ruínas teria sido construída a mesquita. Por isto os grupos extremistas hinduístas, a destruíram em 1992, consideram o veredicto uma gloriosa vitória e retomaram o entusiasmo. O chefe do RSS (Rashtriya Swayamsevak Sangh, "Corpo nacional de Voluntários") convocou todos os militantes, lançando uma campanha nacional para construir um magnífico templo para ao deus Rama, e alguns políticos, como Lal Krishna Advani, do partido nacionalista hindu Baratiya Janata Party, manifestaram uma opinião favorável". Dayal nota, a esse respeito, sérios perigos para as minorias religiosas: "Segundo acadêmicos e juristas, o Tribunal, aceitando a mitologia hinduísta como um fato real, descobre um vaso de Pandora que poderá trazer graves repercussões sobre as minorias religiosas na Índia. De fato, existem muitos outros casos semelhantes: os territórios em disputa entre grupos religiosos, cujos documentos de arquivo e evidências arqueológicas são escassos. Somente nas relações entre hinduístas e muçulmanos estão em andamento pelo menos outras três grandes disputas, mas segundo os movimentos extremistas hinduísta como o "Sangh Parivar", são pelo menos 3.000 os locais de culto pertencentes a comunidades religiosas minoritárias, que teriam sido construídos sobre ruínas de templos hindus.
Hoje, como com Ayodhya, estas reivindicações podem multiplicar-se ou reforçar-se, com efeitos negativos nas relações inter-religiosas”. O Secretário continua: “Além disso, a sentença não considera a lei que afirma que o terreno de um edifício religioso – templo, mesquita ou Igreja – é reconhecido e estabelecido para sempre a partir do momento da Independência da Índia, em 5 de agosto de 1947, e ninguém pode usurpar o local ou edifício de comunidades religiosas”. O veredicto de Ayodhya, reitera Dayal à Fides, constitui um “alarme para as minorias na Índia”: “O que mais me preocupa é ver que os tribunais não decidem com base em provas ou no direito, mas levam em conta os sentimentos populares. Isto dá à comunidade majoritária, a hindu, um poder extraordinário em um país multicultural como a Índia”. Uma nota positiva, segundo Dayal, foi a atenção do governo e da polícia sobre o episódio: o controle dos militantes, a mobilização das forças de segurança, a interdição dos SMS coletivos. “Isto significa que as minorias podem e devem ser protegidas” – conclui.
(PA) (Agência Fides 1/10/2010)


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