ÁSIA/ÍNDIA - Ficha - Ayodhya, quando a política manipula a religião

Terça, 28 Setembro 2010

Nova Délhi (Agência Fides) – O "caso Ayodhya" representa um paradigma perfeito de como a religião possa ser instrumentalizada para fins políticos, alcançando os melhores resultados. A divergência em questão parece à primeira vista estritamente jurídico-religioso: duas diferentes comunidades de fiéis reivindicam o direito de construir um templo no mesmo local, mas o caso foi a "rampa de lançamento" para a arena política de um partido nacionalista que apareceu na cena indiana nos últimos tempos, apenas em 1980: o Bharatiya Janata Party (Partido Popular do Indiano), que chegou a menos de vinte anos ao governo federal da vasta nação indiana. O partido, que foi alimentado continuamente pela ideologia nacionalista Hindutva ("Hindu", o slogan "a Índia para os indianos"), aproveitou a onda de tensões religiosas e a disputa de Ayodhya. O caso diz respeito a um lugar onde em 1528 o sultão Mughal Babur ordenou a construção de uma mesquita, o Babri Masjid, no local em que, segundo os hinduístas, surgia em precedência um templo dedicado ao deus Rama, uma das reencarnações do deus Vishnu. Os primeiros atritos entre as comunidades religiosas se verificaram já em 1859 a administração colonial britânica decidiu erigir uma cerca no local contestado. Um século depois, o conflito não acabou: dentro da mesquita aparece uma estátua do deus Rama, provocando protestos de muçulmanos, que fomentaram uma ação civil. O governo declarou o local "área disputada" e colocou a mesquita sob seqüestro. No entanto, foi necessário aguardar a década de 80, pois a disputa degenerou em violência: em 1984, o movimento fundamentalista hindu “Vishwa Hindu Parishad” (VHP, “Conselho Mundial Hindu”) formou um comitê para “libertar” o presumível “local de nascimento de Rama”, para construir um templo em sua honra. A este ponto, o líder do BJP, Lal Krishnan Advani, assumiu a liderança da campanha contra a mesquita: desde então, Ayodhya detém a sorte eleitoral do BJP, que passou rapidamente de 7,4% dos consensos em 1984 para 21,1% em 1991. Quando em 1991, o BJP venceu as eleições no estado de Uttar Pradesh, o cenário piorou: em 6 de setembro de 1992, a mesquita foi destruída por uma multidão de hindus, sob os olhos da policia. Rapidamente desencadeiam-se represálias e confrontos entre muçulmanos e hindus, que causam um trágico balanço de mais de 2 mil mortos. O local foi colocado sob assédio. Apesar do caro preço pago, o episódio compactou as alas e aumentou o consenso social entre os correligionários, traduzindo-se em apoio político ao BJP. O percurso do partido concluiu-se quando em 1996, o BJP obteve a maioria relativa e em 1998, o governo do país. Outra conseqüência verificou-se em 2002, quando o Premiê indiano Atal Bihari Vajpayee, do BJP, anunciou a colocação da pedra fundamental do templo hindu em Ayodhya, desmentindo-a em seguida. Os extremistas, no entanto, prepararam-se para a celebração do evento. A tensão explodiu em 26 de fevereiro de 2002, quando um trem repleto de “voluntários do Deus Rama” foi atacado por islâmicos na estação de Ghodra, em Gujarat. Desencadeiam-se novas violências inter-religiosas, com mais de 700 mortes. A polêmica terminou no Tribunal. No processo, foram ouvidos testemunhos de arqueólogos sobre a presença de resíduos de um templo hindu antecedente à mesquita. Quinta-feira, 30 de setembro, o Tribunal de Allahabad emitirá a sentença, à qual seguirá, todavia, um processo de apelo.
(PA) (Agência Fides 28/9/2010)


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